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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Anatomia da Emoção


Quando você está lendo um empolgante romance posso dizer que está usando suas funções cognitivas (uma ação: ler, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação,  pensamento e linguagem) e os processos emocionais (prazer, riso, choro), se emocionar com o personagem do romance.
 
O estilo de vida e o modo como exprimimos nossas emoções ou nossas escolhas existenciais, formam a base da nossa personalidade.
 
Veja só: emoção é movimento, que dá cor aos nossos sentimentos, sejam sentimentos negativos (ciúme, inveja, ira, ódio) ou sentimentos positivos (alegria, carinho, amizade, amor).
 
Emoções provocam diversas modificações em nossa estrutura física, sejam elas: autonômicas (pulso acelerado, palidez ou rubor facial); endócrinas (suor excessivo, lágrimas, boca seca ou salivação); musculares (crispação das mãos ou rosto, sorriso) e comportamentais (agitação, fuga, paralisação).
 
Não podemos ignorar o poder das emoções, pois estas são basicamente impulsos para agir.
 
A raiz da palavra emoção é mover e vem do latim (movere). Emoção nos leva a agir, e é interessantíssimo observarmos as assinaturas fisiológicas quando nos emocionamos.
 
Você mesmo quando fica irado, já percebeu que o seu ritmo cardíaco fica acelerado? Escute! É mesmo o seu coração? ele esta batendo muito rápido. E aparece uma onda de hormônios como a adrenalina que gera energia para o ataque.
 
Já sentiu medo? De que? Pois é, este seu medo faz com que o sangue vá rapidamente para as pernas, por isso o seu rosto fica pálido, são os circuitos nos centros emocionais do nosso cérebro que disparam nossos hormônios colocando nosso corpo em sentido de alerta para fugir ou quem sabe enfrentar aquele monstro horroroso, tipo bicho papão.
 
Lembrou, quando você era criança?
 
E quando estamos felizes, seja pelo amor ou satisfação sexual é o “padrão estimulação parassimpático”, o oposto do medo e fuga, este padrão traduz um conjunto de reações do nosso corpo e que possibilita um estado geral de relaxamento, satisfação e calma.
 
As emoções tem forte domínio sobre nossa mente pensante, é comum ouvirmos relato de mulheres cujo marido as abandonaram porque se apaixonaram por uma mulher mais jovem.
 
Imagine a cena, que se arrasta por vários meses de discussões amargas sobre guarda de filhos e divisão de bens.
 
Ouvimos então da mulher abandonada: “Não me lembro mais do fulano, não me importo”, mas ao fazer tal declaração, percebemos que seus olhos se encheram de lágrimas.
 
Se formos empáticos, saberemos que olhos com lágrimas podem significar tristeza, apesar de ter verbalizado o contrário.
 
É aí que percebemos: temos duas mentes, a que pensa e a que sente. Pensa, raciocina, pondera, fica refletindo horas e acaba chorando.
 
Ah! a minha mente emocional me desmascara. Paixão e razão.
Já se sentiu assim alguma vez?
 
Os estudiosos afirmam que a mais antiga raiz de nossa vida emocional está no sentido do olfato, especificamente no lobo olfativo, as células que analisam e absorvem o cheiro, que nos tempos primitivos era o sentido supremo de sobrevivência.
 
Imagine leitor, fazer escolhas pelo cheiro: é tóxico? ou posso comer? inimigo? sexualmente acessível? predador ou presa?
 
Tudo pelo cheiro! Incrível!
 
Evoluímos, nosso cérebro emocional também, veja o sistema límbico, este território neural de emoções, principalmente quando estamos enlouquecidos pela paixão ou paralisados pelo medo. Quem nos tem em seu poder?
 
Acertou, é o sistema límbico.
 
Aprendizado e memória.
 
Compare o medo de uma lebre e o medo humano. A lebre tem um conjunto restrito de respostas típicas para a questão do medo e os humanos como possuem um repertório mais complexo, pode inclusive ligar para o telefone de emergência da polícia. O quê? 190?
 
Pois é, nossa arquitetura neural está associada ao nosso cérebro emocional influenciando nos centros do pensamento.
 
Você já teve um ataque de nervos?
 
Explosão emocional é o que chamamos de seqüestros neurais, o cérebro límbico recruta todo o restante do cérebro para sua ira, disparando uma reação explosiva, antes do neocórtex, o cérebro pensante, verificar o que está acontecendo e o mais interessante é que quando passa este momento de fúria, as pessoas não sabem explicar e nem compreendem o que aconteceu com elas.
 
Qual foi a última vez que você se viu fora de controle?
Você refletiu e viu depois que passou dos limites?
 
Isto foi um poder neural que se originou na sua amígdala, um centro no cérebro límbico. Mas veja bem, nem tudo é agonia nestes seqüestros límbicos, uma piada que te faz rir a ponto de perder-se em sonoras gargalhadas é também uma resposta límbica.
 
A onde está a sede de toda esta paixão? Ira e risos descontrolados?
 
Respondo, é um feixe em forma de “amêndoa”, chamada amígdala (da palavra grega “amêndoa”), de estruturas interligadas acima do tronco cerebral e são duas amígdalas, uma de cada lado do cérebro, e é uma especialista em emoções.
 
Alguma vez ouviu falar em “cegueira afetiva?
É o que acontece se a amígdala for cortada do cérebro, o resultado é uma total indiferença e impressionante incapacidade de avaliar o significado emocional dos acontecimentos.
 
A amígdala atua como um depósito de nossa memória emocional, se não a tivermos, não teremos significados emocionais, ou seja, toda paixão depende dela.
 
Qual foi a vez que você chorou de dor ou por amor para se acalmar?
 
Lágrimas é um sinal emocional dos humanos, a menos que seja lágrimas de crocodilo, mas chorar ou ser acalentado através de um abraço acalma as regiões da amígdala e a estrutura próxima denominada giro cingulado.
 
O funcionamento da amígdala e sua interligação com o neocórtex estão no centro da inteligência emocional.
 
De qual ato você se arrependeu? Por que nos tornamos tão irracionais com facilidade?
 
Estes circuitos neurais são esculpidos pela nossa experiência durante a infância, por isso é tão importante treinar as crianças em inteligência emocional, ensinando-as a conhecer as próprias emoções, e ter autocontrole dos sentimentos quando estes estão ocorrendo.
 
Crianças necessitam aprender a lidar com suas emoções e para que isto ocorra é necessário colocar limites, motivá-las através do exercício da espera, da paciência, aprendendo a adiar a satisfação imediata e dominando a impulsividade do momento.
 
Ensinar conceitos através do exemplo, da prática da empatia esta capacidade de reconhecer emoções nos outros, perceber do que precisam ou o que desejam, aprendendo a estabelecer vínculos de amizade e relacionamentos através da comunicação, do exercício da paciência e do cultivo do bom humor.
 
Nosso cérebro é bem flexível e está em constante aprendizagem e podemos usá-lo para o bem, ele é uma verdadeira orquestra para a nossa mente.
 
Muitas e muitas vezes eu me perguntei, por que a superfície do nosso cérebro é tão enrugada?
 
Os cérebros dos coelhos são quase lisos e os nossos tão dobrados e enrugados. Talvez seja o reflexo da maturidade filogenética da mente humana. Quem sabe?
 
É um processo miraculoso o neurodesenvolvimento e é contínuo nos seres humanos até os 20 anos de idade.
 
Nosso cérebro sofre modificações quando exposto a influências biológicas, ambientais e psicológicas, estas experiências individuais são poderossíssimas, afetam nossos cérebros por toda a vida.
 
Brevemente falaremos também de outro importante componente na anatomia das emoções, a Ìnsula, uma estrutura do tamanho de uma ameixa seca e que vem desafiando os neurocientistas sobre as suas funções no complexo de circuito múltiplos que compõe  as emoções humanas (cheiros, sabores, sons).
 
Cuide bem do seu cérebro. Converse com seus amigos e enquanto saboreia o seu suco preferido (tangerina? carambola ou melão? ficou com sede de repente?) diga a eles sobre a anatomia das emoções, especificamente fale da amígdala que é parte importante da sua, da minha inteligência emocional.
 
E por fim, descubra a assinatura fisiológica de suas emoções.
Pense!