“Ninguém é uma ilha
completa em si mesma; todo homem é um fragmento do continente, uma parte do
todo.”
John Donne - (poeta inglês, nascido em 1572)
É inquestionável a influência das emoções sobre o nosso
corpo, muito embora os aspectos orgânicos e hereditários sejam reconhecidos na
etiologia das doenças.
Acho... Não! Tenho certeza, estou sentindo nostalgia! Esse
termo “nostalgia” é uma condensação das palavras gregas “nostos” (retorno) e
“algos” (dor), uma expressão da incapacidade de elaborar um montante de dor ou
sofrimento, que vem na experiência de sentir saudade.
Isso me remonta à escravatura, quando os escravos degredados,
adoeciam com o Banzo, uma melancolia profunda, uma nostalgia mortal que
acometia os negros africanos, longe de sua pátria.
Esse “quantum” de dor é algo específico para cada indivíduo,
e que constituem o seu estilo peculiar de elaborar a própria dor.
Tudo está enraizado em uma selva de vínculos, que dão forma a
gestalt e quando esta se modifica acarreta também uma modificação do todo.
Por detrás de um sintoma, subjaz uma situação de conflito, do
qual emerge a doença como uma tentativa fracassada de resolução.
As neurociências reconhecem a primazia da afetividade no
funcionamento cerebral e de todo o sistema nervoso e imunológico.
As doenças quando permeadas por um conflito emocional
agravam-se sobremaneira.
Afinal, ninguém aprende a andar sem levar uns tombos e
arranhar os joelhos ou mesmo fraturar algum osso, da mesma forma a nossa
afetividade, ela é um processo contínuo de aprendizagem que pode ser por
tentativa e erro ou uma somatória de experiências frustrantes ou não.
Bloqueio da expressão afetivo-emocional poderá gerar
ansiedade que se liga aos fenômenos metabólicos e vegetativos do organismo.
Fatores emocionais são capazes de desencadear processos
orgânicos, por exemplo, um indivíduo com raiva, faz com que a sua pressão
arterial se eleve e isto poderá torna-se um círculo vicioso e se transformar em
uma hipertensão crônica.
Cada um faz a doença que pode, ou seja, em cada indivíduo, a
orientação emocional se expressa na escolha do território somático.
Veja, quando analisamos o caráter e temperamento dos
indivíduos que exibem doenças psicossomáticas, um hipertenso é assinalado com
frequência como portador de uma
personalidade dominante e hostilidade reprimida, já um asmático, pode ser
alguém altamente agressivo, embora oculte sua ira, por uma aparente timidez e
docilidade.
Essas observações da sintomatologia das doenças são expressas
de conformidade com fatores emocionais, e quanto mais nervoso e agitado, mais
os sintomas se agravam.
O quê? Úlcera gástrica? Refluxo gastroesofágico? Disfunções
estomacais?
Estudos psicológicos revelam que seus portadores, são
indivíduos tensos, excessivamente conscienciosos, frequentemente exigentes
consigo mesmo, mascarando um sentimento profundo de dependência.
A energia emocional é capaz de determinar estados ulcerativos
da mucosa gástrica, pois as emoções afetam o estado vascular, motor e secretor
do tubo digestivo. Além disso, foi verificado que sentimentos de vergonha,
provocam aumento da secreção gástrica ácida, e se persistirem é possível o
desenvolvimento de úlceras pépticas.
A verdade é que tensões emocionais, principalmente ansiedade
prolongada altera o funcionamento do sistema nervoso autônomo e o próprio
metabolismo, sendo capazes de determinar alterações secretórias do estômago,
favorecendo o desenvolvimento de disfunções do aparelho digestivo.
Daí a necessidade de se conhecer o elemento emocional na
cadeia etiopatogênica da úlcera gástrica ou do refluxo esofágico.
A realidade emocional do paciente costuma fornecer
indicadores dos sintomas psicossomáticos que pioram em ocasiões, em que é submetido
a situações de pressão, stress ou realidades penosas e adversas.
Quando se realiza um tratamento medicamentoso sem êxito, pode
se pensar na natureza psicogênica da doença e promover também o tratamento
psicológico.
O conhecimento da personalidade e padrão de reação
individual, de modo a lidar com as emoções, são elementos diagnósticos
preciosos.
Quando o paciente é o último a compreender que a doença
reside na sua incapacidade de lidar com os seus problemas emocionais, torna-se
difícil estabelecer uma ordem e segurança em sua qualidade de vida.
Interpretar os resultados de exames físicos, laboratoriais ou
complementares deve vir acompanhado com a compreensão da personalidade do
paciente.
Cada pessoa reage ao sofrimento orgânico/físico de
conformidade com a sua realidade emocional, e que por sua vez também, interfere
no fisiológico.
A psique humana é como um bosque de pulsões obscuras a se
manifestar por intermédio das doenças, lapsos de linguagem e das neuroses.
No nosso íntimo existe uma luta titânica entre interesses
conflitantes, seja pelo anseio de prazer ou exigências morais que nos norteiam.
Desmascarar no plano da consciência tais conflitos internos é
um caminho estreito, mas firme, para a reparação de distúrbios psíquicos,
verdadeiros ninhos de vespas, quando estes conflitos interiores são
inexplicados e recalcados.
A dimensão psíquica está entre o insondável limite biológico,
entremeado nos trilhos da mente inconsciente ou consciente e que se manifestam
através de doenças psicossomáticas, numa expressão individualizada de seu
“tendão de Aquiles”.
Como você tem pescado nas águas do seu inconsciente?
Dependendo da profundidade, que tipo de peixe, tem apanhado?
Conhecer os seus limites, fraquezas e potencialidades e poder
expressá-los é vital, e isto implica numa busca contínua e permanente daquilo
que é singular no universalmente humano.
Vida longa e
boa saúde, para você!
Deijone do Vale
Neuropsicóloga
Muito interessante este artigo, como está intimamente ligado o nosso estado físico ao emocional.
ResponderExcluirÓtimo artigo!
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