“Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar
rei do espaço infinito”
William Shakespeare
(Hamlet)
Paixão, você já sentiu isso?
Essa coisa que move impetuosamente a alma de forma
particularmente ardente, este sentimento forte e profundo que arrebata o nosso
cérebro e faz o coração dar pinotes?
Ah! Então, você sabe do que estou falando... Provavelmente,
em algum momento de sua vida, você se sentirá arrebatado pelo outro, faz parte
da condição humana.
Difícil? Também acho.
Ninguém disse que seria fácil.
Mas... Porém... Contudo... Todavia... Entretanto... Parece
que amamos amar. Será?
É a natureza humana!
A paixão é como um raio fulminante em um céu de brigadeiro surge
inopinadamente e é sentida como uma corrente elétrica de 1000 volts e que
coloca nossos neurônios em sentido de alerta.
Imagine um mar encapelado, com ondas altas e revoltas numa
zona de arrebentação e que se quebram em um torvelinho de espuma, assim é a
paixão.
Um sentimento extravagante, um júbilo interno que se move à
velocidade da luz.
Experimente para você constatar.
As emoções do apaixonado podem ficar fora de controle, nosso
cérebro recebe e interpreta toda e qualquer informação, seja sensorial, de
linguagem corporal, verbal ou visual, como se fosse uma expressão da declaração de amor do outro.
É, realmente, perdemos a noção de razão e lógica.
Nossos recursos cognitivos conspiram contra nós (lembranças,
cheiros, sons, música), expressando a imagem e o desejo pelo amor do outro.
Os bilhões de neurônios criam uma rede de conexões que nos
aciona em movimentos motores (senta, levanta, anda e corre) sem necessidade
específica e nos leva a manifestar comportamentos que não prevíamos.
Ficamos literalmente hipnotizados, poderíamos facilmente ser
classificado como um idiota, e é claro que não somos, mas parecemos, nos
transformamos, ficamos com a boca seca, mãos úmidas, tremores, suores, coração
em plena taquicardia parece que vai saltar pela garganta.
É demais você não acha?
Se for necessário exibirmos nosso QI (Quociente de
Inteligência) para qualquer assunto provavelmente será classificado entre
idiota ou imbecil acentuado.
Pode um negócio deste?
É possível?
É verdade! Apaixonado é bobo mesmo. A gente só falta babar
pelo outro.
A paixão aparentemente produz uma deficiência intelectual que
pode ultrapassar os limites da debilidade mental. Provavelmente estou
exagerando um pouquinho só, mas é mais ou menos dessa forma.
Sabemos que estados emocionais como o da paixão podem inibir
as funções mentais e reduzir de modo dramático o rendimento intelectual e esta
inibição emocional, ou seja, este “ataque de estupidez” é uma experiência
conhecida entre os apaixonados, principalmente para nós tímidos.
Gaguejamos, nos atrapalhamos, trocamos as palavras,
esquecemos o que íamos dizer, enfim, metemos os pés pelas mãos.
É um Deus nos acuda. Socorro!
Está rindo de quê?
Aguarde, sua vez chegará.
O amor é lindo! Suspiros, suores, olhares apaixonados, frio na
barriga, borboletas no estomago, aceleração cardíaca, peito saindo fumaça, a
flecha do cupido atingiu o seu cérebro, de cheio no centro da ínsula.
Logicamente tudo isto misturado com nossos fatores genéticos,
culturais e sociais.
Todo o nosso cérebro se modifica devido à química das
substâncias que produz, elevando a frequência de batimentos cardíacos e
respiratórios assustadoramente, parece que você subiu uma escada de 700
degraus, você está ofegante.
Se preparando para uma maratona? É o que parece.
A pressão arterial alcança picos elevados, as pupilas
dilatam, podemos ter tremores, rubores ou palidez, perda do apetite, do sono e
da concentração.
Puxa! Parece que estamos seriamente doentes.
É a dopamina que está em plena ação, agitando as regiões
específicas do sistema límbico e deixando tudo potencializado pela emoção.
As estruturas ativadas no cérebro do apaixonado são as do
córtex pré-frontal, núcleo caudado e a área tegumentar ventral, áreas que
estimulam os circuitos de recompensa, liberando endorfinas, dopamina e
noradrenalina.
E é aí que reside o perigo, pois muita adrenalina, oxitocina
e cortisol (hormônio do estresse), secretado pela glândula adrenal,
desequilibram nossas emoções.
Doente de amor, já ouviu isto?
É a pura verdade, não comem, emagrecem de amor, tudo isso
porque a adrenalina secretada pelo cérebro do apaixonado e pela glândula
adrenal é um inibidor natural do apetite e do sono.
O S.N.A. (Sistema
Nervoso Autônomo) é ativado durante as emoções e passamos a comportar às vezes
de forma irracional, isto talvez se deva ao sistema límbico.
O amor e a paixão podem ser medidos pelo hormônio dopamina,
um neurotransmissor que aciona os centros de recompensa e de prazer do nosso
cérebro.
É verdade, a importância dos neuroquímicos e dos circuitos cerebrais na fisiologia da
paixão, é o caso da feniletilamina, um neurotransmissor cuja produção pode ser
desencadeada por um simples toque de mãos ou uma troca de olhares.
Incrível, não é mesmo? Estas são as sensações e mudanças a nível
fisiológico que experimentamos quando nos apaixonamos.
É inegável a importância dos sentidos nos arroubos da paixão,
veja por exemplo a visão, numa troca de
olhares, automaticamente é ativado o neocórtex especializado em avaliar e
selecionar.
A audição se prende ao que se fala e ao tom de voz, estes
possuem efeito na escolha do parceiro, assim como o tato, considerando que
temos aproximadamente dois metros quadrados de pele com milhões de receptores,
enviando seus impulsos nervosos do cérebro para a medula e que nos mobiliza em
termos de imaginação, emoções, atividade motora e memória.
E o que dizer do paladar? A língua é a base do paladar, e a
boca riquíssima em sensibilidade, talvez uma das partes mais sensíveis do corpo
humano, basta lembrar do bebê na fase oral, onde sua boca é a sua primeira
fonte de prazer.
E o olfato?
Ele propicia um efeito direto em nossa afetividade. Cheiros?
Odores?
Aí podemos nos perguntar, até que ponto o amor é uma reação
química?
Odor corporal é algo para se pensar: o mesmo perfume em
pessoas diferentes produz odores diferentes.
Enfim, o nosso espetacular cérebro atribui valor positivo à
companhia de outra pessoa.
E em Gênesis - (Gn. 2:24), está escrito: “Por isso, deixará o homem pai e mãe e se
unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”
Deijone do Vale
Neuropsicóloga