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quinta-feira, 18 de julho de 2013

SÍNDROME DE JERUSALÉM: Uma viagem para...




“...  e toda  altivez que  se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”
                                                                                                                                                                                                                (2 Coríntios – 10:5)

Você já visitou Jerusalém?

Caminhou pelas suas ruas?

O que esperava encontrar?

Raízes da fé cristã ou apenas florestas de amêndoas, azeitonas e pinheiros?

Se surpreendeu com o comércio e toda a tecnologia da modernidade?

O que viu não corresponde aos padrões bíblicos?

Sentiu o misticismo que paira no ar, quase palpável?


Jerusalém, a  Cidade  Santa, incrustrada nas montanhas da Judéia, entre o mar Mediterrâneo e o norte do mar Morto, repleta de peregrinos, de gente que busca fundamentos  para sua fé, em locais considerados sagrados ou junto ao Muro das Lamentações, principalmente seguidores das principais religiões monoteístas do mundo: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo.

Qual foi a sua  primeira impressão de Jerusalém?


Uma expeiriência profunda e significativa?


Um mero passeio turístico?


Afinal, o que  te moveu?

Estava de férias? Pois é, pessoas quando tiram férias procuram deixar para trás preocupações, angústias existenciais, tudo que as incomodam e buscam distanciar-se fisicamente, geograficamente e emocionalmente daquilo que as sufocam.

Você algum dia se sentiu assim? O que buscava?


A Cidade Santa  exerce sobre as mentes religiosas um fascínio excepcional e naturalmente os princípios bíblicos são analisados criteriosamente em suas mentes.

Fé? Desapontamento? Reverência? Religiosidade? Enfado?


Tudo isso se mistura em um ambiente propício a mobilizar reações emocionais intensas, prioritariamente em indivíduos predispostos, suscetíveis psicologicamente e com forte tendência mística.

Já ouviu falar sobre a síndrome de Jerusalém?
Um conjunto de sinais e sintomas que acomete algumas pessoas que visitam a cidade e que repentinamente apresentam mudanças bruscas no comportamento.

Muitos dizem ser o Messias, o rei Davi ou qualquer outro personagem  bíblico, referindo intensa ansiedade e marcante obsessão por limpeza, vagando obstinadamente pelos locais sagrados, afastando-se do grupo e explorando Jerusalém sozinhos.

Referem um arrebatamento espiritual, permeado por explosão emocional, com a perda do contato vital com a realidade, característica da psicose, apresentando quadros de  alucinações (falsas percepções) e delírios (falsas crenças).

Muitos daqueles acometidos pela síndrome, cobrem-se com uma túnica branca e expressam seus conflitos internos, incorporando uma identidade mística.

Pesquisas revelam que a maioria dos que desenvolvem a síndrome, possuíam histórico psiquiátrico, e Jerusalém simbolizava naquele  momento um aporte para seus conflitos.
Mas o que dizer daqueles que não tem histórico de anormalidades em seu psiquismo?

É possível que algum agente estressor possa desencadear a síndrome, pois o psiquismo obedece a princípios internos, que reagem ao meio,  e  estas reações  são diretamente proporcionais aos estímulos ambientais, como é o caso de Jerusalém  com uma   atmosfera carregada pelo  misticismo e rituais religiosos.

Esta atmosfera permeada pelos diversos credos e religiosidades proporciona ao visitante um mergulho dentro de si mesmo, uma busca de significado para a existência, favorecendo o contato com experiências que podem ser difíceis para alguns, daí as ilusões, sendo Jerusalém uma especíe de catalisador de emoções de cunho místico e fonte de conflitos psicológicos nas suas mais variadas dimensões.

Difícil explicar o inescrutável, pois o que se passa em nosso inconsciente são primorosas especulações, uma vez que todo ato psíquico começa com um ato inconsciente, e a maioria deles assim permanece, sendo a mente e  o cérebro uma terra de possibilidades ilimitadas.

E nesse complexo emaranhado de influências provenientes da história pessoal do indivíduo, e de suas relações intra e interpessoal, emerge crises que podem posteriormente estabilizar ou desorganizar psicologicamente.

Especialistas discutem  sobre àqueles indivíduos que mesmo não possuindo antecedentes de anormalidades em seu psiquismo, acabam por desenvolver a síndrome, no entanto quando retirados do ambiente e levados para suas famílias, retornam à normalidade.

Condutas humanas tem sentido emocional por mais absurdas que possam parecer, e são significativas no contexto da história de vida de cada um.

Uma atitude considerada radical à expressão emocional, é o pressuposto de que toda conduta tem um sentido que atende as demandas internas singulares do indivíduo.

Atos extravagantes que disparam à revelia, ameaçam ultrapassar-nos e transbordar de forma indomável, como é o caso das psicoses.

Funcionam como um arcabouço da subjetividade, como uma  fonte a jorrar experiências personalíssimas, dolorosas ou gratificantes, e que se manifestam através dos processos psicodinâmicos bem sucedidos ou não.

Clinicamente, o caso da síndrome de Jerusalém,  evidencia a batalha ferrenha da mente, quando nossos sentimentos e fé estão em processo de desequilíbrio.

Causa natural produz efeitos naturais e mente conflituosa produz todo tipo de perturbação. Natural ou sobrenatural?

A Síndrome de Jerusalém expressa magistralmente uma ruptura dos processos inconscientes, manifestando-se como catarse, uma descarga emocional espetacular, provocada por um drama da mente humana.

Sabemos que processos catárticos se manifestam em relação a um conflito específico, e  provavelmente a Síndrome de Jerusalém traduz um conflito universal: A busca do homem pelo significado da vida!


Deijone do Vale
Neuropsicóloga 

terça-feira, 2 de julho de 2013

NEUROPLASTICIDADE: (de Janeiro a Janeiro)




De Janeiro a Janeiro

Não consigo olhar no fundo dos seus olhos
E enxergar as coisas que me deixam no ar
As várias fases, estações que me levam com o vento
E o pensamento bem devagar
Outra vez eu tive que fugir
Eu tive que correr
Pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar...

Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A consequência do destino é o amor, pra sempre vou te amar
Mas talvez você não entenda
Essas coisas de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de Janeiro a Janeiro
Até o mundo acabar...

(Roberta Campos e Nando Reis)

Essa é a letra de uma música que você poderá ouvir no final do texto.

Algumas músicas podem ativar nossos circuitos cerebrais e provocar um conteúdo emocional de contágio, comunicando ao espírito um sentimento, que por sua vez aciona na alma um leque de emoções, que ficarão impressas em nossas memórias.

Lágrimas podem surgir como uma resposta emocional, deslizar pelas faces, enquanto o cérebro processa algumas emoções no circuito do sistema límbico, associadas à melodia repleta de conteúdos simbólicos.
Chorar, uma expressão humana... a música tem esse poder de evocar emoções intensas, é a melodia da voz na nossa mente, é isso que nosso cérebro produz.

Além do ritmo, melodia e harmonia, a própria interpretação do conteúdo da letra pode atender necessidades emocionais do momento, possibilitando fazer contato com sentimentos e afetos íntimos, criando uma identidade sonora musical e estimulando o Self, com energia produzida nos níveis inconsciente, pré-consciente e consciente.

Vivenciamos sonoridades ao longo da vida e a música provoca muitas das vezes insight sonoro, e esta identificação emerge do lobo temporal, guardião de nossas memórias.

É possível melhorar o cérebro com a idade, as investigações da neurociência demonstram que nosso fantástico cérebro nos leva à sabedoria e ao que chamamos Neuroplasticidade.

É isso aí: moldar a mente, nosso incomparável cérebro através de A-T-I-V-I-D-A-D-E!

O interessante é que de conformidade com as áreas que mais utilizamos, o nosso cérebro muda de forma, por exemplo, temos o Hipocampo (essa região é particularmente importante para a memória espacial), investigações e pesquisas confirmaram maior desenvolvimento do hipocampo em taxistas, se comparados com a população geral.

Por que isso? Porque os taxistas exercitavam mais o cérebro na área do Hipocampo, memorizando avenidas, esquinas, ruas, travessas, rotas, endereços e esta memória com a idade não diminuíram, pelo contrário, aumentaram com os anos, e estes achados são também os mesmos na circunvolução de Heschl dos músicos (área cerebral importante para processar a música).

Boa notícia, essa de que os nossos neurônios são criados ao longo da vida, mediante o esforço mental, e seus efeitos são específicos, de acordo com a natureza da atividade mental realizada.

Estes neurônios novos se multiplicam com especial intensidade nas mais distintas zonas cerebrais, ou seja, onde são usados, utilizados.

Importante fazer uso da atividade mental conforme envelhecemos, ativarmos a neuroplasticidade e moldar a mente através de exercícios mentais.
Como proteger sua mente? Exercitando!

Assim como a atividade física é importante para a saúde cardiovascular, o exercício cognitivo é fator de proteção contra a senilidade e demência.

Quando desejamos aprender alguma coisa, usamos o hemisfério direito, assim que alcançamos um nível de aprendizado, habilidade ou perícia, já passa a ser controlado pelo hemisfério esquerdo, e assim durante a vida, construímos um depósito ou repertório de destrezas cognitivas, é a famosa “experiência”, e então?

Deve continuar aprender a aprender, sempre!

Você sabia que sentir-se amado é um grande anti-ansiolítico?  É verdade, esse punhado de neurônios que fazem do cérebro essa espetacular estrutura, tem sistemas específicos que produzem substâncias para a motivação e recompensa.

Por isso a simples visão da pessoa amada ativa o sistema de recompensa e nos faz sentir prazer e querer mais e mais, não é assim? Só a presença do anjo amado, já funciona como calmante, porque aumenta a liberação de ocitocina (substância que estimula o sistema de recompensa), diminuindo a atividade das áreas responsáveis pelo medo e facilitando a aproximação, a proximidade e diminuição das defesas do nosso ego.

Na presença de quem amamos, ficamos mais dispostos, bem humorados e menos defensivos.  É verdade, gostar faz bem, para o corpo e também para o emocional.

Seja flexível, mantenha seu cérebro ativo, ele foi projetado para ser original,  criativo e estimulado pelos cinco sentidos.

A grande verdade é que podemos aprender coisas novas durante toda a vida, inspire-se e inove.
 O que você aprendeu hoje e ontem ainda não sabia? Proponha como estilo de vida aprender alguma coisa nova todos os dias. O que fez de forma diferente?

Vá além das fronteiras e autobloqueios, tenha desafios mentais que estimulem seus hormônios e ajudam a manter os neurônios vivos.
Cada coisa que vemos, ouvimos, sentimos está gravado em nossas memórias, lógico, em áreas específicas, é o caso de sentirmos um determinado perfume e lembrarmos de quem o usa.
Faça o maior número de conexões possíveis e agora aproveite este momento, feche os olhos, relaxe e ouça a música abaixo.

Música serve de trilha sonora para filmes mentais, faça sua mente ser exercitada com imagens, lembranças, e resgate sua memória de médio e longo prazo, mantendo saudável suas  funções cognitivas.

Então?  Continuamos assim... de Janeiro a Janeiro... 
Ou será... de Junho a Junho?...

Ouça aqui a música.





Deijone do Vale
Neuropsicóloga