Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar.
Mário Quintana
Basicamente imunidade à dor, ao medo e ao amor, não existe, todos estamos sujeitos a desabar diante de níveis destrutivos de alta ansiedade, que mina a energia vital de forma disfuncional, promovendo desconforto, sofrimento e adoecimento.
Você teme ser rotulado de frágil ao dizer que sente medo diante de algumas circunstâncias?
Tem medo de ser criticado em sua competência pessoal?
Sente-se acusado ou culpado de alguma forma?
Como tem reagido frente a estas questões? Fugindo? Calando-se? Isolando-se? Ruminando a sua insatisfação e se escondendo?
Se analisarmos o desgaste fisiológico da atitude medrosa, veríamos uma orquestra química em andamento, todo um sistema em estado de alerta, disparando os temíveis corticóides, as respostas imunológicas caóticas, uma corrente sanguínea agitada numa glicação vertiginosa, aceleração dos batimentos cardíacos e picos hipertensivos devido ao desequilíbrio psicológico e emocional.
Se você encontrar alguém de súbito, este certamente irá reparar na sua respiração de búfalo, e poderá se assustar com a sua transpiração excessiva, parece que está fugindo de um dilúvio.
Basta darmos uma olhadela de esguelha para os músculos do pescoço, com aqueles nós enrijecidos, prontos para nocautear algum inimigo oculto.
Nosso funcionamento humano vai do fisiológico para o emocional, do mental para o comportamental, numa ciranda viva e saltitante de sentimentos, afetos, que se reposicionam em ações, pensamentos, e novamente sintomas físicos, numa interpretação clara do dito popular: “Você dá o que você percebe”.
A distorção da percepção termina por levar nossos sentidos a bloqueios, devido a uma possível falência ou exaustão do organismo como um todo.
O que é visível em seu corpo em momentos de tensão?
Você tem consciência das situações que desestabiliza sua resistência e reatividade?
Que tipo de emoção experimenta quando se sente pressionado interna ou externamente?
Você fica flertando com emoções negativas?
O medo, por exemplo, é um cativeiro que nos paralisa e torna a vida uma batalha emotiva desgastante.
Já parou para pensar na fonte de seu medo?
O que tem assombrado sua alma nesses dias?
Você está fugindo de quê ou de quem?
Seu maior medo é... seu maior trunfo é...
Mas seja qual for à magnitude de seu medo, este deve ser confrontado, entendido e esclarecido.
De onde vem o medo?
E esses sentimentos sutis de insatisfação, ansiedade e dúvida?
E as lágrimas, estas significam...
Mas qual é mesmo a sua motivação?
Mudança de sentido, mudança de norte... mudanças...
Ai! que dor de amor! Ficamos insanos, achamos até que vamos morrer nessa espera inconfortável.
Não dormimos, reviramos na cama em todos os ângulos possíveis e imagináveis, sem encontrar a posição correta... insônia... até a motivação para sorrir se esvazia.
Aqueles que amam se revelam, não tem jeito, é uma reincidência, uma atrás da outra, ficamos frágeis, maquiamos nossa vontade para esconder o nosso pesar.
E você, o que faria por amor?
Lembrando o mito sobre o amor, Cupido, filho da deusa romana Vênus, um pequeno gorducho com asas, segurando um arco e flecha, tornou-se símbolo do amor, e segundo a lenda o fofo anjinho pode fazer alguém se apaixonar, simplesmente ao atirar uma seta dourada em seu coração, ou será no cérebro, o órgão da atividade mental?
Fico rindo sozinha, enquanto escrevo, e me lembrando de que o riso, é um excelente ponto de equilíbrio, funciona até como mecanismo de defesa, um apoio inestimável para nossos apuros.
Quem ama em algum momento vai transcender, extravasar ou implodir.
São promessas e mais promessas: “Não quero mais”; “não quero ver”; “não quero olhar”, típico da fábula de La Fontaine: A raposa e as uvas... hummm! As uvas estão verdes?
Ah! nos enganamos: é só ver a sombra da criatura, já nos derretemos, tipo avalanche de geleira, é um estrondo!
O que você não fez por amor?
Enxergamos o outro sob a perspectiva de uma lente de aumento, ficamos instáveis e sensíveis, vemos os mínimos gestos, o jeito de andar, de se posicionar, de olhar, os movimentos faciais, as mãos... que coisa mais estranha, o amor!
O nosso corpo age impulsivamente, desrespeitando distâncias tempo/espaço e tornamo-nos ousados em busca da pele do outro, estilhaçando fronteiras e limites.
Sofremos por agir e sofremos por não agir, ficamos inquietos, e como diria Freud, o pai da Psicanálise: “Nunca estamos tão mal protegidos do sofrimento como quando amamos”.
E quando não conseguimos legitimar nossa percepção em relação ao outro, ficamos perplexos e desnorteados, diante de nossa experiência subjetiva, sem reciprocidade, que nos sinalizaria a correspondência desse afeto.
Ficamos avulsos, a sensação é dolorosa, uma entidade sensorial que envolve aspectos psicológicos, físicos, ambientais e até cognitivos.
O medo aciona nosso hipotálamo para produzir mais adrenalina, mais acetilcolina, alterando nosso organismo, nosso metabolismo, promovendo uma desmedida inquietação, insatisfação e angústia pela ausência ou impossibilidade de se ter a companhia do outro.
É uma realidade passional desintegrada, uma incompletude, parecem feridas em processo de cicatrização.
Como apagar o afeto pelo outro, esse “eu” que deseja o “tu”?
Novamente Freud sinaliza: “Se eu pudesse te dizer, aquilo que nunca te direi, tu poderias entender aquilo que nem eu sei”.
Esse é o lado cruel e arriscado do envolvimento amoroso.
A impossibilidade da afetividade é como uma sentença de morte, o outro sabe que morreu dentro do outro, e assim tem também que matar o outro que ficou dentro de si.
A dor é o preço!
Deijone do Vale
Neuropsicóloga