“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine ... se não tiver amor, nada serei.”
1 Coríntios 13: 1 - 2
Existem pessoas e pessoas, algumas encantadoras, outras inteligentes, criativas, humildes, complexas, amáveis, solidárias e altruístas.
Pessoas são fascinantes, um verdadeiro jardim a ser cultivado e apreciado, no entanto, ao convivermos mais de perto com algumas, certamente teremos conflitos e quem sabe, até pequenos estressores do dia a dia podem minar nossa capacidade de amar e demonstrar afeto.
Todos em alguma medida temos limites e imperfeições, quantas vezes gostaríamos de ser mais paciente, mais bem humorado, menos ansioso e mais agradável.
Alguma vez você foi capaz de elaborar um mapa de suas relações?
Relações pessoais, profissionais, familiares, sociais e espiritual?
Estas relações espelham potencialmente nossas escolhas, e como reagimos a uma situação específica, evidenciado os aspectos internos e externos da alma.
Conhece seus limites? Suas fronteiras? Seus mecanismos de defesa?
O movimento emocional interfere em nosso comportamento e expandir as amplitudes da mente, podem promover lucidez e equilíbrio.
Quantos ficam cativos de suas emoções? Alguns só arquivam traumas, traições, discriminações, inferioridades, fobias, complexos e punições.
Acalentamos, afagamos e guardamos esse lixo emocional em algum cantinho neuronal de nossa espetacular memória existencial, geralmente de médio e longo prazo.
Como superar tudo isso? Coitado do nosso córtex cerebral, tem que se reconstruir...
É isso mesmo, reconstrução, construir novamente, reformar e reorganizar.
Saia daí fantasmas psíquicos! Parem de assombrar essa mente, e isto significa exatamente o quê?
Escolhas! Fazer escolha, gerenciando sua mente de forma consciente, confrontando sua ansiedade com domínio próprio e autocontrole, resgatando assim a serenidade.
Corrija suas rotas, arrisque-se a olhar com maior atenção suas perspectivas, e aquiete-se para ouvir sua intuição.
Cultive a paciência, pois a reconstrução é um processo extremamente lento que exige disciplina e força de vontade.
Não se compra tempo, mas qual é mesmo a oportunidade de hoje?
O quê? Uma leve arritmia diante de um olhar mais ousado? Ou um friozinho na barriga ao ser abraçado? São emoções boas, não é?
Você é uma pessoa fascinante ou difícil de conviver?
Como vai a sua capacidade de amar? Isso expressa valores ou necessidades?
O que o outro tem que você precisa? Qual a dimensão da sua possível capacidade de amar?
Amar, sem nada esperar... amor pelos excluídos, pelos miseráveis, pelos desprovidos de qualquer utilidade.
Amar o ser, é amar sem querer algo em troca, não ver nenhuma oportunidade de tirar proveito.
Uma parcela significativa de humanos, ama o ter, bens materiais, status social, amor pelo dinheiro, pelo poder, amor condicional, sem gratuidade, absolutamente desprovido de graça, amor com preço e utilidade, amor que alimenta o ego pelo que recebe do outro.
Cadê os sonhos? Sonhe! Sonhos traduz criatividade, aventuras, riscos e descobertas.
Surpreenda as pessoas com um sorriso de bom dia, de gratidão, de carinho, rompa o óbvio e encante o outro com um abraço ou afago, expresse sentimentos, que certamente irão marcar intensamente o córtex cerebral de seu amado.
Navegue nas águas da emoção, de forma saudável, serena e tenha gestos nobres, que confortam, acolhe e irrigam o relacionamento com atitudes iluminadas.
Seja justo, agradeça o maravilhoso ato de estar vivo, pois a vida é algo extraordinário, assombroso, deslumbrante e totalmente preciosa.
Como tem vivido a sua afetividade? Quais são as suas experiências emocionais significativas?
Tem pessoas que não querem encontrar-se no amor, outros querem ser encontrados, outros enclausuram sua capacidade de amar, tornando-se ocos e sem vida.
Qual será a sua verdade máxima?
Quando sentimos amor é algo bem simples, mas ao descrevê-lo torna-se extremamente complexo.
Debruçamo-nos sobre uma dimensão multifacetada de formas e capacidades de amar.
Amar nos coloca em cheque com nosso mundo interno e externo, onde mergulhamos nas margens de nossa realidade psíquica em confronto com a experiência emocional do outro, levando-nos a correr riscos ou deliciar.
Difícil estar completo sozinho, mas o amor algumas vezes nos coloca em posição de dependência, e a escolha amorosa tem tudo a ver com a singularidade de cada um, são “divinos detalhes”.
E como diria Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante”.
A questão que envolve a capacidade humana de amar, está intimamente ligada às nossas relações interpessoais primitivas e atuais.
O contato humano é o substrato pelo qual se expressa nossas emoções, resultante de um complexo processo fisiológico e psicológico.
A capacidade ou disponibilidade para relacionar-se com o outro, faz desabrochar o potencial inato que temos para o amor.
Amar é uma atividade cognitiva/afetiva que irá permear todo o nosso ciclo vital, e que se estrutura na interação humana e se estabelece como uma marca singular e personalíssima de nossa digital afetiva.
A afetividade é construída através dos vínculos estabelecidos durante a vida, em um processo dinâmico de contínuo movimento, o qual orienta condutas, atitudes, escolhas e a própria personalidade do individuo.
É um processo articulado, através dos elementos psicológicos, que vão desde a competitividade, cooperação, dependência, autonomia e que podem se transformar em elementos saudáveis ou patológicos, e que se tornam a matriz do nosso jeito de ser e estar no mundo, definindo a nossa identidade amorosa.
É fácil teorizar sobre o amor e até dizer que ele representa o fracasso do inconsciente, difícil mesmo é vivenciá-lo.
Diz o dito popular, que quando um não quer dois não brigam, assim é o amor em certos casos, você dá o que não tem para quem não quer, talvez seja esse, o freio do inconsciente sobre o amor, uma tremenda de uma insistência sobre o im(possível).
Simétrico? Irregular? Convexo ou Côncavo? Relativo ou Absoluto?
A verdade é que nenhum arsenal de conceitos vão satisfazer nossa percepção ou fantasia sobre o amor.
Ah! o amor... uma projeção sensorial, amparada por devaneios, ilusões, investimentos narcísicos de nossa psiquê e de nossas vivências e experiências humanas, essa forma de saber, onde se aprende vivendo, não é?
O amor, um caminho que deve ser percorrido, uma experiência insubstituível, talvez a mais doce e extraordinária das vivências humanas, um mergulho para além da alma.
Somos finitos em nossa amorosidade humana, um ser no mundo, e a presença do outro dentro de nós, de forma idealizada ou fantasiada em representações simbólicas da nossa consciência.
Se formos malvados e matarmos o ego do outro ao qual hipoteticamente amamos, o nosso próprio ego também irá morrer.
Chego a conclusão de que o amor é uma tentativa de cura, sabe aquelas pessoas altamente tóxicas, rancorosas e que cultivam uma insatisfação crônica?
Estas deveriam aprender a amar, é o remédio perfeito, para amargurados, pessimistas, pessoas irritáveis até com pequenas bagatelas do cotidiano.
O problema dos chatos de galochas é que eles ou nós, são como fermento que estraga a vida e azeda as relações, e o que é ainda pior, são portadores da síndrome do contágio, que acometem quem convive com tais criaturas, uma verdadeira epidemia.
Temos mesmo que aprender a lidar com as frustrações e perdas, pois estas nos ajudam a construir com solidez uma afetividade saudável.
Na prática clínica é possível adentrar o mundo psíquico do paciente e vislumbrar o sofrimento, e quando se escava mais profundamente, o que comumente encontramos aberto ou de forma sutil, é o sofrimento ligado inexoravelmente ao amor.
Amor... o mundo em que habitamos e vivemos reflete claramente um contexto de egoísmo, invejas e opressão, um verdadeiro “mundo tenebroso”.
E se o mundo jaz na malignidade e no maligno, então estarmos no mundo, é uma espetacular oportunidade para fazermos a diferença e manifestar o amor, a compaixão, a bondade e a misericórdia, sabe de quem?
De Deus! Estar no mundo é ser sal da terra, é ser luz da vida, estar no mundo, mas não ser mundano, nem imundo, é ser fonte de graça, essa é a nossa missão.
Infelizmente, nos tornamos legalistas, que por sua vez leva à culpa, e esta a frustração, mas tenho uma boa notícia, como disse Dostoiévski: "...o coração do homem tem um vazio do tamanho de Deus”.
Deijone do Vale
Neuropsicóloga