Metaforicamente nossos “joelhos existenciais” começam a tremer diante das fissuras ocorridas no âmago da alma, no entanto, é possível voltarmos inteiros, mas transformados.
Deijone do Valle
A sua mente é, e continuará sendo, um lugar de desejos, enganos, medos, motivações e fantasias, caso você não a discipline e a tenha sob controle.
E uma forma brutal e comum de minar a autoestima, seus valores morais e éticos, é deixá-la passiva.
Conhece a síndrome da passividade?
Compreender sua mente e o funcionamento dos mecanismos de defesa do ego, é o primeiro passo para uma boa defesa dos ataques que esta sofre contínua e persistentemente.
Nossa existência basicamente é moldada pela mente, e a palavra chave é equilíbrio, para a manutenção da saúde física e mental.
Vivemos a era da insatisfação, as pessoas são bombardeadas por padrões de comportamentos distorcidos, imagens idealizadas, atributos físicos inacessíveis, valores questionáveis, status virtuais e uma série de imposições que ditam modelos impossíveis de serem alcançados.
Mas o que é mesmo violência?
Violência é o abuso da força, seja física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.
Na verdade, a violência é representada por ações e ou omissões, que fragilizam o psiquismo de maneira cruel, forçando a vontade do outro, submetendo-o pela oposição ao direito e à razão.
E o que dizer da violência conjugal?
Daquelas agressões físicas que marcam a pele e deixam o olho roxo?
Ah! Você é daqueles que se silencia, como no famoso jargão popular: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher...”
Lá se foi o tempo em que a violência conjugal poderia ser um problema privativo do ambiente doméstico e silenciado entre as quatro paredes do domicílio, do lar doce lar.
Tudo mudou, os gritos são ouvidos, a polícia é acionada e os tribunais também.
Posso dizer sem medo de errar, que briga de marido e mulher é uma questão social e de saúde pública, sabia?
Atualmente temos leis que pretendem mudar conceitos, posturas e atitudes. Lei Maria da Penha?
Daqui a algum brevíssimo tempo, teremos também a Lei João da Rocha, concorda?
Maridos também apanham e apresentam lesões corporais. É cada arranhão! Cruzes!
Os parceiros de certa forma estão degladiando e nem percebem com clareza as agressões que praticam e promovem um contra o outro, são dois íntimos inimigos, que vão adoecendo numa mutualidade que fere, arranha, morde, desrespeita e leva a relação para o fundo do poço.
Quantos casais vivem uma ciranda viciosa de brigas intermináveis, discussões infindáveis, xingamentos, acusações de toda ordem, que ofende a dignidade da relação conjugal.
O interessante é que estes casais levam um tempo enorme para perceberem que estão brincando na fronteira da morte, e o cenário dessa violência psicológica a qual são submetidos, dá os sinais de seus efeitos nocivos não apenas na saúde do casal, mas dos filhos e da sociedade.
Vivemos em uma sociedade repleta de desajustados emocionais, onde se vê o sofrimento estampado nos olhos do vizinho, do colega de trabalho, do conhecido e do desconhecido que cruza a rua.
Uma verdadeira epidemia de dores emocionais e psicológicas.
Identificar os sinais da violência não basta, a difícil tarefa fica por conta da devastação da alma e das consequências dessa violência na vida das pessoas e que lhes rouba a alegria de viver.
Não se padroniza sofrimento, este é sempre singular e surpreendente, é algo que subtrai a espontaneidade, diminui o diálogo, e devassa a autoestima e a autonomia.
Prevenir ou punir? Intervir?
O que responder, diante de um cenário difícil, onde impera o desrespeito, a omissão, a insatisfação, a dominação, a infidelidade, a opressão e a desqualificação na competência sexual, pessoal ou profissional?
O panorama é de uma violência disseminada em todas as esferas da sociedade e que não escolhe classe social, grau de instrução, religião ou cultura.
A intolerância é a marca registrada na vida conjugal contemporânea, daqueles que atravessam os limites da ponderação e do bom senso e cruzam a linha divisória, mergulhando fundo em ações de cunho violento, caracterizado por espancamentos, gritarias e por fim, polícia.
Casamentos marcados por intolerância é um típico navio naufragado, onde precisa ser ajudado, pois intolerância gera incomunicabilidade, ações negativas, como socos, pontapés, tapas, mentiras, acusações, tiros, facadas e todo o tipo de ação deletéria que no final resulta numa ruptura psicótica, como é o caso do suicídio.
Os vínculos desfacelados e empobrecidos afetivamente, ampliam o distanciamento entre os casais, manifestado pelo desinteresse, pelo desprezo ou pelo ciúme patológico, isolamento social, impaciência, uso de drogas e bebidas alcoólicas em exagero, traições e que culmina numa crescente desnutrição psicológica da relação afetiva.
O desinteresse afetivo leva a uma inversão e deslocamento da emoção saudável, por exemplo, viver sexo compulsivo, poderá gerar transtorno alimentar (comer ou beber demais), depressão, como consequência da violência psicológica.
Cadê a compaixão? Cadê a empatia? O diálogo, a tolerância, a paciência e o respeito?
Ás vezes será necessário buscar ajuda profissional, familiar e espiritual.
Estes embates físicos e emocionais desencadeiam um vazio psicológico, destruindo o compromisso humano de família e sociedade, acentuando os padrões manipulativos de dominação e desamor, tornando-se uma relação perigosa, de adoecimento e de morte.
É comum a instalação de processos depressivos em um dos casais, ou em ambos, e não apenas no aspecto físico e psicológico, mas comprometendo toda a existência.
É aquele marido que mergulha no trabalho e não que voltar para casa, ou aquela mulher desconfiada e invasiva, tudo se torna conflituoso e as cobranças e acusações mútuas, transformam a existência em um fardo insuportável para ambos.
É necessário interromper o ciclo de violências, de atitudes iradas, espírito crítico, recriminações e ataques constantes contra o outro, pois isto provoca um verdadeiro tormento emocional de frustração e ressentimento, um círculo extremamente vicioso.
Responda por favor: Se eu pudesse perguntar ao seu cônjuge o que você está fazendo de errado, o que ele me responderia?
É preciso saber! Não adivinhe... pergunte!
E de uma vez por todas, pare de remoer pensamentos amargosos, tipo: Ele não me ama...; Não consigo acreditar que ele foi capaz de fazer isso comigo...; Nunca o perdoarei.
Substitua esses pensamentos por pensamentos agradáveis, bondosos e afetuosos: Bem, ele parece que está mudando...; É difícil, mas posso superar...; Vou perdoá-lo.
Amargura é um veneno para o casamento, é como um rastilho de pólvora pronto para explodir nas ocasiões mais impróprias e inesperadas, o que amplia a chance de separação e divórcio.
E o que dizer de pensamentos vingativos e de retaliação? Pare... enquanto é tempo. Não deixem que criem raízes.
Vou te dar uma dica: Todas as vezes que você tiver vontade de dar o troco, faça algo bom para o outro: engraxe os sapatos dele; lave o carro dela; faça o doce preferido dele; mande-lhe um buquê com as flores prediletas dela.
Faça isso até aprender a perdoar e superar seu estresse emocional e depois faça por puro prazer.
Não tome decisões ou fale coisas por impulso, persevere em manter o equilíbrio e nada de ficar cultivando a autopiedade que é um gatilho para a depressão.
Aprenda a desenvolver a paciência, com um espírito perdoador e respeitador, nada de berros, baixaria ou quebrar inofensivos objetos do lar, não é mesmo?
Mantenha a educação, fale com firmeza, mas com classe e afeto, e nada de ironias desnecessárias e provocativas, seja cortês e polido, você só tem a ganhar, mantendo padrões razoáveis de honra e respeito pelo outro.
E finalmente, busque a paz, a violência gera apenas perda, e como expressou o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre: “A violência, seja qual a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.
Deijone do Valle
Neuropsicóloga
Neuropsicóloga