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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

AMOR : Bem me Quer ... Mal me Quer...



Amar é deixar explodir a doce confissão de um sonho enclausurado.
Deijone do Valle

Ninguém está sozinho, quando se tem um coração sensível e um cérebro repleto de sonhos. É assim ? ou não é assim ?

Sentimentos formam a base de qualquer relacionamento humano, seja no trabalho, nas amizades ou no amor.

Vivemos em um mundo sem fronteiras, globalizado, paradoxal entre uma oferta incomensurável de prazeres de um lado e do outro uma solidão compulsória e um vazio existencial.

Lembra do Jardim do Éden? Éden significa delícias... Adão sozinho em seu jardim de delicias... O que foi que aconteceu? Deus olhou para aquela beleza toda e vendo o homem sozinho, disse : “Não é bom que o homem esteja só, far-lhe-ei uma auxiliadora idônea”. (Gêneses 2:18)

E Deus criou a mulher, então Adão disse : “Esta mulher é osso dos meus ossos e carne da minha carne” .(Gêneses 2:22)

Desde o Éden vemos um homem sozinho e depois com sua amada. Séculos depois: homens e suas amadas, valores e princípios sendo quebrados, e um tremendo mito social, de que a quantidade de parceiros sexuais, acrescenta maior experiência, o que não é verdade.

A intimidade e prazer sexual estão ligados diretamente a questão da maturidade emocional que só acontece através de relacionamentos duradouros.

O que vemos hoje são amores descartáveis, desejos sem limites, escolhas e experiências amargas, paixões desenfreadas retratam a vida amorosa de uma geração extremamente imatura.

Mas apesar do número crescente de divórcios, o casamento não é uma instituição falida, o que ocorre é a desatenção, o desrespeito, a quebra da aliança pelos parceiros através da infidelidade, o que fragiliza a crença no amor e no casamento.

É necessário amar e ser amado. Vivemos em um mundo caído, uma cultura da inverdade, da lascívia e da futilidade.

Reconstruir é preciso. É necessário resgatar valores, fortalecer o caráter através do respeito mútuo, e aprender com relações de referências e influências positivas.

Existe uma epidemia de referências negativas para crianças e adolescentes ainda em formação, de adultos imaturos emocionalmente, como é o caso da pornografia na internet, o que ocasiona masturbação compulsiva, sexo virtual, tele sexo, prostituição entre outros.

Tudo isso promove descontrole do desejo sexual, levando à compulsão que gera mal estar físico e mental, tão frequente em relacionamentos insatisfatórios e caracterizados pela culpa.

O que traz realização sexual é exatamente o vínculo de confiança e os valores estabelecidos pelo casal.

A autoestima deve estar equilibrada, não se deve buscar um relacionamento afetivo para preencher o vazio interior, isto é projetar no outro o que você não tem.

Os casamentos acabam, os maridos e esposas vão embora, ficam alguns amigos, no entanto eles não nos proporcionam a intimidade e a segurança de um parceiro, principalmente no que se refere à ternura e cumplicidade.

Adaptamos e nos acostumamos a solteirice, mas fica sempre o desejo de uma relação bem sucedida, isso faz parte da natureza humana.

Amor é intimidade, uma tentativa de cura, uma mistura de agonia e êxtase, e não apenas um ato sexual, mas uma relação sustentável.

Só o prazer é muito pouco, esse desejo sexual composto de facetas mil, único em sua expressividade, neste incrível labirinto de nosso circuito cerebral, expresso pelas incontestáveis fantasias e fome de viver.

Aonde foi parar a intimidade? o afeto e a confiança?

Estamos caminhando sobre gelo fino: estresse, cansaço, carências psicológicas, crises financeiras, mágoas, ciúmes, falta de testosterona e mais, muito mais.

Você já se imaginou dormir ao lado de alguém que não ama e nem deseja?

Deve ser por isso que a pornografia virtual tem ganhado uma força devastadora na vida de muitos casais e destruído famílias, rompendo vínculos afetivos e criando fantasias virtuais com indivíduos que provavelmente são irreais, em detrimento de um relacionamento real, verdadeiro e concreto.

O espaço cibernético é a essência da irrealidade sexual, alavancado por fantasias onde nada é proibido.

Perdeu-se a linha do encontro real, e pessoas se fantasiam em um corpo virtual: perfeito, irretocável, onde não existe barreira, a não ser a da tela do computador, tudo é possível, tudo é permissível.

O humano é “infinitizado” no contexto virtual, onde o outro se permite viver todas suas fantasias sem o contato físico real.

O intocável que habita em nós pode se mostrar sem se tocar.

Um peso isso, para quem vive relacionamento natural como é o casamento.

O espaço virtual, eu diria, ocupa um ranking privilegiado na desconstrução das relações estáveis e saudáveis.

Infelizmente esse jogo sexual virtual, poderá destruir reputações, devastando imagens e legitimando o divórcio.

O anonimato virtual tem contribuído para aliviar frustrações acumuladas, e fica quase impossível ao outro competir, pois as máscaras podem ser trocadas rapidamente ao sabor das fantasias.

Fico imaginando um beijo virtual comparado ao  beijo real, se estes indivíduos pudessem estar cara a cara, talvez nem se olhassem.

Fantasias vivenciadas em mundos paralelos, desprovidas do toque físico pelo outro, da legitimidade do contato pele com pele, da temperatura, do cheiro, da ternura expressa pelo olhar e das diversas expressões faciais e o ruído delicioso de um sorriso.

Afinal, sentem-se vulneráveis sem a presença de uma tela de computador para se “proteger” do outro.

A mente pode ser uma verdadeira fábrica de ilusões, quando não a controlamos e nem a disciplinamos.

Impossível exercitarmos virtualmente um tempo moral do olhar.

O toque físico é um sinalizador de ternura que invade o sistema límbico esse centro de emoções de nosso inconfundível cérebro.

Quando tocamos alguém, geralmente estamos expressando nossa conexão, invasão ou interesse, mas está no cérebro a origem de qualquer desejo.

Sou fascinada pelo contato humano essa mercadoria rara no imenso universo virtual.

Ficaremos sozinhos para sempre? E por mais que nossa resistência seja a marca da solitude, o corpo é fonte de desejos, sentimentos e intenções.

O corpo fala, isto é fato, e o amor é expressão máxima da essência que caracteriza a condição humana.

E se questionarmos alguém sobre seu anseio maior, ouviremos com frequência que é viver um grande amor.

Amor esse sentimento que nos deixa viciados pelo outro, são os mesmos mecanismos neuronais dos viciados em cocaína.

Você sabia que apaixonados não ficam resfriados com frequência? Isto porque existe uma ativação maior do sistema imunológico.

Os hormônios dos apaixonados se equilibram, no caso da testosterona esta sobe nas mulheres e baixa nos homens, ou seja, esse hormônio sexual, faz com  o homem fique mais feminino e a mulher mais masculina, o homem fica mais dócil e a mulher mais atrevida.

O amor pode ser comparado a uma droga e como tal tem o efeito da abstinência.

É a Síndrome do Coração Partido, isso ocorre quando o amor termina e em seu lugar fica aquela tristeza, medo, dor, desespero, comprimindo o pobre coração, e o corpo produz mais cortisol, o hormônio do estresse, e assim adoecemos literalmente por amor.

Você sabia que chorar é saudável? Nossas lágrimas nos relaxam e expele parte do hormônio do estresse (cortisol), e lágrimas contém analgésico natural como a encefalina que nos ajuda a liberar a dor.

Respeito, carinho e amizade compõe o pacote do amor, e a ordem natural dos acontecimentos é ter amizade, se conhecer, namorar, e se casar.

Na atualidade as pessoas nem se conhecem e já se relacionam sexualmente, uma verdadeira inversão de valores, não aprendem a criar vínculos saudáveis de amizade e confiança, que é um indicador seguro de que você tem maturidade para o amor.

Aquelas lindas mãozinhas dadas tem um significado incrível, somos um casal, nos apaixonamos, mas para ir em frente e dar certo, tem que haver planos e objetivos comuns, e finalmente decidir-se conscientemente pelo outro.

Para finalizar cito a declaração do ator Dustin Hoffman para sua esposa Lisa, que expressa o sonho de cada mulher: “Não consigo descrever o que me une à minha mulher, depois de 28 anos, mas uma coisa sinto com força: tanto faz quanto tempo ainda temos juntos, e mesmo se eu fizer cem anos eles não são suficiente”.


Esse amor vale a pena!

Deijone do Valle
Neuropsicóloga