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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Pai – “Presente” para o Filho



Dizem que navegar é preciso, digo que escavar é preciso. Os arqueólogos procuram juntar fragmentos do passado em busca de um sentido para o presente. Saber quem é o pai, conhecê-lo, conviver com ele, ter o seu nome na certidão de nascimento é fundamental na construção da identidade pessoal do indivíduo. O exercício da paternidade é um ato de amor e referência.

Alertamos que a ausência paterna durante o desenvolvimento da criança ou do adolescente têm conseqüências no desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental.

Já dizia Freud, em seu trabalho: Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância: “Na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa figura de autoridade é tão imperativa que seu mundo desmorona, se essa autoridade é ameaçada”.

Realmente, a função paterna exerce um papel que reforça o sustentáculo afetivo que o pai representa para que a mãe possa interagir com o seu filho (bebê), e ao mesmo tempo funciona também como um fator de divisão, da relação simbiótica do bebê e sua mãe. O pai passa a representar o princípio de realidade e ordem dentro da família e a criança à medida que vai amadurecendo percebe que ela não é o centro do universo, não é a única a compartilhar a atenção da mãe.

Os pais aumentam ou dificultam os processos de maturidade emocional, daí a importância do pai, a falta deste poderá ocasionar uma dificuldade para lidar com os sentimentos gerados por este abandono, seja ele total ou parcial.

É possível encontrarmos nestas crianças e mesmo depois de adultos, sentimentos de baixa auto-estima, por não se sentirem merecedoras de amor, pelo fato de não terem sido reconhecidas como filhos.

Sentimentos de ódio, de inveja, de ciúmes são de difícil manejo, considerando que toda criança necessita saber e se sentir amada, aceita, querida e que de alguma forma possui raízes, pois a família representa a essência do vínculo afetivo na construção da sua capacidade de estabelecer vínculos interpessoais.

A grande maioria de atendimento em psicoterapia de crianças e adolescentes são ocasionadas por problemas de agressividade, indisciplina, baixo rendimento escolar, apatia, gravidez precoce na adolescência, marginalidade, uso abusivo de drogas, são de crianças e adolescentes, ressentidas pela ausência do pai. Até a identificação sexual necessita desse modelo de pai, como  no Complexo de Édipo, fenômeno universal que consiste no amor do menino pela mãe e na hostilidade pelo pai. É uma relação de ambivalência porque também ama esse pai. 

O Complexo de Édipo é uma analogia à lenda grega, na qual Édipo, sem o saber, assassinou o próprio pai e casou-se com a mãe, e ao descobrir a verdade vazou os próprios olhos.

Uma boa ilustração do conflito edípico aparece no filme japonês: O Corvo Amarelo, que conta a história de um menino, filho único, que viveu em um ambiente repleto de afeição, enquanto o pai se ausentava por um período relativamente longo. Quando voltou, a criança demonstrou-lhe abertamente sua hostilidade, não aceitando sua amizade e tentando impedir sua aproximação da mãe. Os conflitos transpareceram em seu comportamento no jardim da infância, a ponto de chamar a atenção da professora que então discutiu o assunto com os pais. Felizmente estes eram compreensivos e, com carinho e paciência ajudaram o filho a resolver o seu problema. 

Quando o Complexo de Édipo é bem resolvido, o menino, por exemplo, dirige-se emocionalmente para figuras femininas fora do lar e vai dessexualizando de sua ternura para com a mãe e se imagina no futuro como alguém tão valoroso como o pai e se casará com uma mulher tão bela quanto à mãe. 

Esta conduta reforçará suas tendências masculinas que encontrarão expressão mais tarde em outras atividades, nos estudos e jogos.

A variante desse fenômeno na menina é o mesmo e o denominamos de Complexo de Eletra, o qual abordaremos em outra oportunidade.

O Complexo de Édipo, contudo nem sempre se resolve satisfatoriamente, por exemplo, se houver uma atitude da mãe depreciatória em relação ao pai ou aos homens em geral, poderá prejudicar o processo de identificação com a figura masculina.

A vida é um suceder de eventos que podem ser mais ou menos traumático conforme os dispositivos de defesa e a ausência de um pai poderá gerar no psiquismo infantil muita ansiedade e estas quando mal elaboradas provocarão prejuízo e desequilíbrio psicológico.

É possível uma criança internalizar um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo ou disparar o gatilho para uma maior propensão ao envolvimento com a delinqüência e a marginalidade.
Temos uma necessidade inata de filiação e quando isto nos é negado, fica uma sensação de orfandade, de um imenso vazio a ser preenchido.

O êxodo paterno tem levado milhares de crianças no Brasil a viverem sem o pai, sem o nome no registro de seu documento de identidade.

O reverso da medalha também é negativo, os homens que não se relacionam com seus filhos também apresentam índices de violência maiores, propensão a acidentes, maior índice de criminalidade, taxas mais elevadas de doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão arterial e são submetidos a tratamentos psiquiátricos e por fim apresentam menor êxito em suas carreiras ou na sua força de trabalho, se comparados com pais comprometidos com suas famílias.

Todos perdemos, quando não construímos uma identidade favorável para nossos filhos. Um pai na vida de um filho é algo legítimo, necessário e por que não dizer vital, não podemos banalizar esta falta, pai é uma necessidade real.

Precisamos fortalecer este vínculo, ligar mais fortemente o pai ao filho, pois um pai comprometido sempre encontrará uma solução adequada às necessidades do filho. Portanto, caríssimo pai que está lendo este artigo, exerça a sua paternidade, senão ficaremos o tempo todo, correndo atrás do psiquiatra, do psicólogo, da polícia, do judiciário, enfim, correndo atrás do prejuízo. Exerça a sua paternidade!

8 comentários:

  1. É realmente imprescindível a presença dos pais na vida dos filhos.
    Parabéns pelos seus artigos que nos trazem riqueza e aprendizado.

    Renata Grazielly

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  2. Dei, meus parabéns! Vc merece todos os elogios. Fico feliz de tê-la como amiga!

    Dr. Celso Carvalho Aquino

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  3. Parabéns por este artigo tão rico de informações referentes a importância da presença do pai na vida do filho, pois a ausência do pai deixa um vazio não só nos documentos, mas também nos sentimentos, concordo plenamente com você pai é uma necessidade real na vida do filho.

    Mª Madalena de Sousa

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  4. Parabéns, este artigo é demais: esclarecedor,profundo, real e verdadeiro. Tem mais, você é linda.

    José Carlos

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  5. Obrigada, Jose Carlos, você é muito bem vindo.

    Deijone do Vale

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  6. Há muito esperava ler alguma coisa igual e, é gratificante saber o quanto é importante o pai para os filhos.

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  7. Padrastos e madrastas, gata borralheira, mulheres que dizem se ama os filhos da outra é porque ainda a ama e homens que não assumem os enteados e ainda abusam deles, porque isto?
    Como e porque se formam as novas famílias, você poderia nos ensinar sobre isto.

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  8. Querida Dê
    Este artigo me emocionou, pois me fez voltar ao passado de muitas coisas que vivi e meu filho vive, aprendi mais ainda com a leitura, seu texto merece ser estudado.

    Beijo Grande
    Alê _ Brasilia

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