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sábado, 16 de fevereiro de 2013

PAIXÃO

“Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito”
                         William Shakespeare
                                          (Hamlet)
 
Paixão, você já sentiu isso?
Essa coisa que move impetuosamente a alma de forma particularmente ardente, este sentimento forte e profundo que arrebata o nosso cérebro e faz o coração dar pinotes?
Ah! Então, você sabe do que estou falando... Provavelmente, em algum momento de sua vida, você se sentirá arrebatado pelo outro, faz parte da condição humana.
Difícil?  Também acho. Ninguém disse que seria fácil.
Mas... Porém... Contudo... Todavia... Entretanto... Parece que amamos amar. Será?
É a natureza humana!
A paixão é como um raio fulminante em um céu de brigadeiro surge inopinadamente e é sentida como uma corrente elétrica de 1000 volts e que coloca nossos neurônios em sentido de alerta.
Imagine um mar encapelado, com ondas altas e revoltas numa zona de arrebentação e que se quebram em um torvelinho de espuma, assim é a paixão.
Um sentimento extravagante, um júbilo interno que se move à velocidade da luz.
Experimente para você constatar.
As emoções do apaixonado podem ficar fora de controle, nosso cérebro recebe e interpreta toda e qualquer informação, seja sensorial, de linguagem corporal, verbal ou visual, como se fosse uma expressão da  declaração de amor do outro.
É, realmente, perdemos a noção de razão e lógica.
Nossos recursos cognitivos conspiram contra nós (lembranças, cheiros, sons, música), expressando a imagem e o desejo pelo amor do outro.
Os bilhões de neurônios criam uma rede de conexões que nos aciona em movimentos motores (senta, levanta, anda e corre) sem necessidade específica e nos leva a manifestar comportamentos que não prevíamos.
Ficamos literalmente hipnotizados, poderíamos facilmente ser classificado como um idiota, e é claro que não somos, mas parecemos, nos transformamos, ficamos com a boca seca, mãos úmidas, tremores, suores, coração em plena taquicardia parece que vai saltar pela garganta.
É demais você não acha?
Se for necessário exibirmos nosso QI (Quociente de Inteligência) para qualquer assunto provavelmente será classificado entre idiota ou imbecil acentuado.
Pode um negócio deste?  É possível?
É verdade! Apaixonado é bobo mesmo. A gente só falta babar pelo outro.
A paixão aparentemente produz uma deficiência intelectual que pode ultrapassar os limites da debilidade mental. Provavelmente estou exagerando um pouquinho só, mas é mais ou menos dessa forma.
Sabemos que estados emocionais como o da paixão podem inibir as funções mentais e reduzir de modo dramático o rendimento intelectual e esta inibição emocional, ou seja, este “ataque de estupidez” é uma experiência conhecida entre os apaixonados, principalmente para nós tímidos.
Gaguejamos, nos atrapalhamos, trocamos as palavras, esquecemos o que íamos dizer, enfim, metemos os pés pelas mãos.
É um Deus nos acuda. Socorro!
Está rindo de quê?
Aguarde, sua vez chegará.
O amor é lindo! Suspiros, suores, olhares apaixonados, frio na barriga, borboletas no estomago, aceleração cardíaca, peito saindo fumaça, a flecha do cupido atingiu o seu cérebro, de cheio no centro da ínsula.
Logicamente tudo isto misturado com nossos fatores genéticos, culturais e sociais.
Todo o nosso cérebro se modifica devido à química das substâncias que produz, elevando a frequência de batimentos cardíacos e respiratórios assustadoramente, parece que você subiu uma escada de 700 degraus, você está ofegante.
Se preparando para uma maratona? É o que parece.
A pressão arterial alcança picos elevados, as pupilas dilatam, podemos ter tremores, rubores ou palidez, perda do apetite, do sono e da concentração.
Puxa! Parece que estamos seriamente doentes.
É a dopamina que está em plena ação, agitando as regiões específicas do sistema límbico e deixando tudo potencializado pela emoção.
As estruturas ativadas no cérebro do apaixonado são as do córtex pré-frontal, núcleo caudado e a área tegumentar ventral, áreas que estimulam os circuitos de recompensa, liberando endorfinas, dopamina e noradrenalina.
E é aí que reside o perigo, pois muita adrenalina, oxitocina e cortisol (hormônio do estresse), secretado pela glândula adrenal, desequilibram nossas emoções.
Doente de amor, já ouviu isto?
É a pura verdade, não comem, emagrecem de amor, tudo isso porque a adrenalina secretada pelo cérebro do apaixonado e pela glândula adrenal é um inibidor natural do apetite e do sono.
O  S.N.A. (Sistema Nervoso Autônomo) é ativado durante as emoções e passamos a comportar às vezes de forma irracional, isto talvez se deva ao sistema límbico.
O amor e a paixão podem ser medidos pelo hormônio dopamina, um neurotransmissor que aciona os centros de recompensa e de prazer do nosso cérebro.
É verdade, a importância dos neuroquímicos  e dos circuitos cerebrais na fisiologia da paixão, é o caso da feniletilamina, um neurotransmissor cuja produção pode ser desencadeada por um simples toque de mãos ou uma troca de olhares.
Incrível, não é mesmo? Estas são as sensações e mudanças a nível fisiológico que experimentamos quando nos apaixonamos.
É inegável a importância dos sentidos nos arroubos da paixão, veja por exemplo a  visão, numa troca de olhares, automaticamente é ativado o neocórtex especializado em avaliar e selecionar.
A audição se prende ao que se fala e ao tom de voz, estes possuem efeito na escolha do parceiro, assim como o tato, considerando que temos aproximadamente dois metros quadrados de pele com milhões de receptores, enviando seus impulsos nervosos do cérebro para a medula e que nos mobiliza em termos de imaginação, emoções, atividade motora e memória.
E o que dizer do paladar? A língua é a base do paladar, e a boca riquíssima em sensibilidade, talvez uma das partes mais sensíveis do corpo humano, basta lembrar do bebê na fase oral, onde sua boca é a sua primeira fonte de prazer.
E o olfato?
Ele propicia um efeito direto em nossa afetividade. Cheiros? Odores?
Aí podemos nos perguntar, até que ponto o amor é uma reação química?
Odor corporal é algo para se pensar: o mesmo perfume em pessoas diferentes produz odores diferentes.
Enfim, o nosso espetacular cérebro atribui valor positivo à companhia de outra pessoa.
E em Gênesis - (Gn. 2:24), está escrito: “Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”
 
Deijone do Vale
Neuropsicóloga