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domingo, 8 de setembro de 2019

DEPRESSÃO E SUICÍDIO: O Cativeiro da Dor...





 “Um abismo chama outro abismo ao rugir das tuas cachoeiras, todas as tuas ondas e vagalhões se abateram sobre mim”. (Salmos 42:7 -9)

Depressão... quantos nomes para essa desconstrutora de mentes, alguém já disse que tinha um ‘’cachorro negro” que o acompanhava como uma sombra, ou o “demônio da meia noite”, que veio assombrar os porões da alma, ou mesmo o “mal do século” que devassa a vida de milhões e acomete pessoas indistintamente, crianças, jovens e idosos.

Segundo o relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde) a depressão apresenta uma expectativa sombria, prevendo que será uma das principais causas da baixa produtividade ao redor do mundo a partir de 2020.

Quanto às causas da depressão, não podemos negar a predisposição genética, assim como os estressores psicossociais que funcionam como gatilhos importantes, sejam perdas, luto, aposentadoria, divórcio, vergonha extrema, entre outros.

Considero a depressão um momento de solidão extrema, onde o abatimento da alma é notório, um coração quebrado, uma mente povoada por emoções negativistas e instáveis, um vazio existencial acompanhado da desesperança, um grito preso na garganta, um gemido reprimido a anunciar a dor fantasmagórica do “eu”.

A depressão é uma batalha feroz que destroça a energia vital e suprime a vontade de viver, amortecendo o brilho dos olhos, esgotando todas as possibilidades do fluir da vida, sendo caracterizada por um estado mórbido de lentificação do corpo e seus movimentos, uma estranheza nas emoções e percepções que se mostram imperfeitas e extravagantes, resultando em uma incapacidade de reação aos pensamentos invasivos de ruína, idéias fixas de fracasso, descontentamento e morte.

Um emaranhado de distúrbios psico afetivos, blindados de uma tonalidade aflitiva, um combate de vontades entre o querer e o fazer, entre pensamentos e ações, uma verdadeira guerra do “eu”.

O mundo externo torna-se assustador e inóspito devido a percepção falha e defeituosa da pessoa deprimida, que se sente impotente diante das demandas naturais da vida.

A vida se transmuta em um fardo de peso incalculável, levando a um quadro psicológico de fracasso, fragilizado o ego e bombardeando a auto estima, promovendo abatimento e isolamento, estreitando sobremaneira o círculo de contatos e interesses.

Estes estados angustiosos do querer e da vontade minam o organismo, desencadeando episódios severos de insônia ou hipersonia, suprimindo o campo de atuação social e profissional, invalidando a estrutura emocional que se desorganiza e entra em colapso, devido ações neurotizadas de um comportamento ácido sobre sí mesmo, o que resulta em um distanciamento das pessoas, acentuando os sentimentos de culpa e vergonha.

Podem apresentam sintomas hipocondríacos, manifestados por humor irritável, o mundo fica caótico, e assim sentem dores difusas e imprecisas em seus corpos, sentem vontade de dormir e nunca acordar, o  que de certa forma explica o isolamento e a falta de interesse pelas realidades cotidianas.

Tornam-se poliqueixosos, ou enclausurados em sua dor, vivenciando um caos interno que impacta notadamente o convívio entre seus pares.

Pessoas muito deprimidas requerem vigilância constante, e por ansiarem a morte, exibem reações emocionais de intenso colorido destrutivo, seja através das verbalizações, seja pela prostração.

É comum a sensação de nulidade, uma vez que a depressão esvazia a alma da capacidade de dar e receber afeto, anestesiando os vínculos de amizade, companheirismo, amortecendo ou mesmo suprimindo a maior força motivadora do universo: a capacidade de demostrar amor e de ser amado.

O mundo é visto sob o prisma da agonia, numa visão de pessimismo que corrói a alma como a ferrugem, invalidando a vida.

Atrofia-se a vontade e a dor se torna viciante.

Pessoas deprimidas ficam apáticas, manifestando comportamento misantropo, as vezes nem conseguem tomar banho, escovar os dentes, se alimentar e mesmo pentear os cabelos, os pensamentos tornam-se repetitivos, com idéias fixas e perturbadoras.

É importante observarmos a depressão em crianças, pois estas geralmente desenvolvem “fobia escolar’’ e sérios sentimentos de culpa e irritabilidade, aliados a bruscas mudanças na cognição (memória, atenção e concentração), com prejuízo para o sono que poderá estar alterado, não dormir, ou apresentar vários despertares, e também observar as alterações na área da fisiologia, onde poderá ocorrer transtornos alimentares que podem variar da anorexia à bulimia, ou compulsão alimentar (hiperfagia compulsiva).

Estamos no mês de Setembro/2019 – Setembro Amarelo, mês escolhido para a prevenção do suicídio, esse silêncio “gritante”, onde se faz necessário a empatia, a compaixão e prestação de ajuda aqueles que querem deixar a vida para fugir da dor.

Alertamos sobre os sinais que podem levar ao suicídio: depressão, alterações do humor, conversas referindo apenas ao passado, falsas calmarias, silêncios estranhos.

Pessoas deprimidas podem se tornar suicidas em potencial, é uma ação impulsiva daqueles que desejam anular sua dor, mas a verdade é que certamente existe uma perturbação na mente daqueles que cogita o suicídio.

Quem sabe um sentimento latente de culpa e vergonha, e que pode ocasionar uma auto avaliação punitiva e negativista das pulsões de vida, desestabilizando o psiquismo e fragmentando a mente entre o mundo interno e externo, impondo um isolamento compulsório que bloqueia a vida.

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, foi magistral quando comparou a depressão ao luto: “Luto é uma dor por uma perda externa, e a depressão é a dor por uma perda interna (perda do “eu”).

Corpo e mente, essa unidade indivisível,  degladiam- se  em desespero, diante de um falso silêncio que arrasta estrondosamente seus pés de chumbo, pisoteando a razão e desafiando os limites da lógica, numa tentativa frustrada em elaborar algum processo adaptativo para suportar a cruel realidade, orquestrada por uma marcha fúnebre nesse duelo de gigantes: Vida e Morte.

O suicídio é um fenômeno intencional, sendo  enorme a sua correlação com a depressão, como fator de risco, devido ao sentimento de falência emocional, vergonha, solidão e um elevado grau de ambivalência, impotência e perda da esperança.

A mente é inundada pelo desejo da morte como término do sofrimento, e quando o suicídio acontece, ele esmaga à todos , e é forte seu impacto, sendo considerado uma das maiores tragédias humanas, e que provavelmente irá nos assombrar ‘’ad eternum”.

O suicídio é visto como um fracasso emocional e responde pela tentativa de eliminar a dor, transformando-se em seu próprio carrasco para a solução final.

Fico questionando, se o suicídio não seria uma espécie de vingança inconsciente ou mesmo consciente contra os vivos, contra aqueles que ficam.

Sentimentos destrutivos de culpa são muito comuns nos familiares, amigos e pessoas do convívio do suicida, que sentem-se profundamente marcados pela culpa e dor, e muitos vivenciam um luto devastador, de uma angústia incalculável, desenvolvendo mecanismos de defesa como a “negação” e a “culpa patológica” pela consumação da vida, e graves problemas emocionais, pois a vida se torna intragável pela sensação de impotência, sendo necessário ajuda psicológica, através da psicoterapia e dos grupos de acolhimento para dar suporte ao impacto do suicídio que modifica toda uma história de vida.

Urgente se faz o resgate de coisas que são fortemente abaladas ou destruídas, é necessário encontrar um novo significado para a reconstrução interna.

Quanto aos aspectos preventivos  e curativos da depressão, a medicação muitas vezes é necessária, considerando os aspectos orgânicos e genéticos da doença, e também a psicoterapia para uma suporte emocional consistente, a fim de propiciar momentos catárticos para alívio das defesas reprimidas e melhoria da organização da estrutura emocional.

Pessoas deprimidas em uso de medicação devem ser acompanhadas de perto, principalmente em períodos de remissão dos sintomas, pois a depressão é uma doença de ciclos, melhora aqui, piora acolá, e de repente tudo fica negro, e o suicídio é uma possibilidade que não podemos ignorar.

O sol da vida poderá voltar a brilhar e para isso as atividades físicas contribuem favoravelmente e podem ajudar a modificar e alavancar as  taxas de endorfinas na corrente sanguínea, melhorando as sensações de bem estar físico e mental.

A inércia e o sedentarismo devem ser combatidos, através de pequenas caminhadas diárias, não permitindo que a ociosidade e a imobilidade sejam as vencedoras, pois a tendência comum em indivíduos deprimidos é ficarem afundados no túnel escuro e escondidos nas sombras de sua dor.

A avaliação nutricional poderá contribuir para o aumento dos níveis de triptofano (aminoácidos de síntese da serotonina (hormônio do prazer), que poderá ser encontrado em uma pequena barra de chocolate amargo, em alimentos como o abacate, nozes, banana verde (biomassa de banana  verde cozida com casca, na panela de pressão,  e depois ainda quente descascadas e liquidificadas no liquidificador, esta polpa pode ser congelada em pequenas porções e utilizada em sucos, cremes, sopas, peixes, ensopados, etc).

E por fim quero abordar a questão da fé, e ao adentrarmos a esfera do espiritual, não podemos deixar de lembrar que somos corpo, alma e espírito.

Depressão exige fé, e esta precisa ser renovada através do amor de Deus, pois sem o exercício da fé, a depressão poderá se tornar um gigante em nossas vidas.

A fé necessita ser restaurada em sua vida, acredite, você é uma obra prima do criador, e nesses tempos de gemidos, dores e desafios, não podemos nos esquecer do amor de Deus por nós.

Guardamos todas as experiências dentro da alma (mente, vontade e emoções), e com as lentes da misericórdia e do amor de Deus, te convido agora ao exercício do perdão.

Perdoe a todos que te feriram e principalmente perdoe a você mesmo, limpe todas as suas feridas com o óleo do perdão.

Cure-se!

A minha oração hoje por você é que encontre o verdadeiro sentido da vida através do amor de Deus.

Deixe-se ser encontrado pela graça de DEUS.

Todo dia é dia de recomeçar.

Cristo é a plenitude e a alegria de toda a terra.

Amém!

Deijone do Valle
Neuropsicóloga