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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Confinamento: COVID19... extraindo novos significados do sofrimento.





“Enquanto como um paciente disposto espero poder beber poções de cura contra a minha terrível infecção; Nenhuma angústia que me cause ainda mais sofrimento, nem uma dura pena para corrigir a correção. Tenha pena de mim, caro amigo, e lhe asseguro que até mesmo sua piedade é o suficiente para me curar.”  (Soneto 111 – Carta a um Nobre Senhor – Shakespeare).


O ano é  de 2020, mas me remete a minha adolescência, quando li pela primeira vez o “Diário de Anne Frank” e sua família judia, isolada entre o medo, a coragem e o absurdo do sofrimento.

Estes são tempos do novo Coronavírus – COVID19, um vírus que veio da China, uma molécula de proteína, revestido com uma capa de gordura (lipídio), um alienígena que invade sem cerimônia, narizes, bocas, e mucosas oculares, provocando uma mutação em suas células multiplicadoras, com uma farra de sintomas como febre, tosse, pneumonia, perda do olfato e sabor, ou mesmo os assintomáticos que podem transmitir o vírus, mas que em alguns indivíduos poderá ser letal.

Sempre pensei na China como um império de primeira grandeza, um dos países mais populosos do universo, com sua cultura milenar, e suas cidades incríveis como Xangai, Beijinj, a Cidade Proibida (considerada Patrimônio Mundial da Humanidade), localizada no centro da antiga cidade de Pequim, atualmente “Palácio Museu” que durante séculos foi residência do Imperador e centro cerimonial e político do governo da China.

Coronavírus! COVID19! China! Wuhan! Imagino a Grande Muralha da China, um conjunto incrível de muros que se espalham entre o norte da China e a Mongólia, com mais de dois mil anos, erguidos sob o domínio de dinastias diferentes e que atraem milhões de pessoas.

Cidade de WUHAN, o “LOCUS NASCENDI” do Novo Coronavírus, que no apagar das luzes de 2019, fez a sua primeira vítima fatal.

Wuhan, um significativo centro econômico e comercial, destacado por pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias em suas indústrias modernas e seus importantes centros educacionais de ciência, e uma expressiva população de 11 milhões de habitantes, a qual comparo, aqui no Brasil, com a cidade de São Paulo, no entanto a metrópole chinesa protagonizou um terrível surto de um tipo misterioso de pneumonia que se transformou em pandemia, tornando-se uma grave emergência de saúde pública de interesse internacional, colocando o mundo inteiro em estado de alerta, com impactos significativos na vida dos indivíduos e na economia mundial, alastrando-se como um rastilho de pólvora, e expondo a espinha dorsal dos sistemas de saúde de todas as civilizações.

Diante desse cenário sombrio e de morte em escalada nos diversos continentes, em pleno século XXI, estamos sendo impactados por uma realidade cruel, que compromete a vida, a saúde física e mental dos habitantes do planeta terra.

Para controle do contágio, da superlotação e falência dos sistemas de saúde, medidas restritivas foram implementadas para se evitar aglomerações (quarentenas, isolamento social, distanciamento social, confinamento), fechamento de fronteiras, shoppings centers, igrejas, lojas, escolas, universidades, teatros, cinemas entre outros.

Foram instituídas medidas preventivas, como lavar as mãos criteriosamente, uso de álcool gel a 70%, máscaras e distanciamento social em bancos, supermercados, refletindo no cotidiano das pessoas, gerando ansiedade, temores, mudanças de hábito nas relações familiares e interpessoais, e  sobretudo no psiquismo individual.

Nesse contexto, é necessário o exercício diário da paciência, da tolerância, dos níveis de comunicação, da afetividade, da empatia, solidariedade e compaixão.

O que você está aprendendo dentro das paredes de sua própria casa? O que esta convivência inesperada te proporcionou? Como tem sido a sua percepção da vida? Qual o sentimento emergente diante da morte pelo COVID19?  Qual é o seu olhar para os profissionais da saúde que trabalham na linha de frente? Qual o sentimento sobre a finitude de sua própria vida?  Você melhorou ou piorou enquanto ser humano nesses dias de coronavírus?  Sua escala de valores mudou?  O mundo hoje para você é...  As vozes externas são mais consistentes do que as vozes internas? 

Quando o ambiente torna-se altamente tóxico, seja pelo medo real ou imaginário, e afloram sensações psicológicas desfavoráveis (angústia, tristeza, solidão, despersonalização), sensações fisiológicas (tremores, sudorese, taquicardia, pressão alta, formigamentos e dormência, falta de ar, fadiga, fraqueza), tudo isso gerado pelo desequilíbrio emocional que promove  transtornos nos hormônios e na química cerebral, devido altos níveis de stress,, tensão e ansiedade.

Em tempos de coronavírus é necessário o isolamento social tão bem expresso no velho ditado popular: “o tiro sempre acerta aquele pássaro que bota a cabeça para fora.”
Estabeleça uma rotina nessa nova realidade, organizando suas prioridades (alimentação, exercícios físicos, limpeza, sono, descanso), aprendendo a exercitar a gentileza nos espaços domésticos, com atos de bondade e cooperação, praticando a empatia e amor ao próximo.

Aprenda a valorizar o ato de preparar sua própria comida, experimentando novos aromas e sabores, cozinhando para alimentar outras pessoas e observando suas reações.
Cultive seu jardim  com plantas que gere flores e frutos, é uma experiência ímpar colher seus próprios frutos. É um exercício de paciência, a espera da colheita.

Leia novos livros, escreva sua história de vida, cante, dance, ore para as outras pessoas, lave a louça, evite a inércia e o vazio, desenvolva a alegria e o prazer em oferecer um chá para seus familiares e degustar o sabor calmamente,  sem pressa,e a minha receita de chá delicioso e relaxante vai aí: 1 litro de água filtrada e fervente; 4 maracujás médios bem lavados e cortados com a polpa e casca e triturados no liquidificador com a água quente e com 4 folhas de capim cidreira (erva-cidreira), coe, adoce com mel ou a gosto, pode ser servido quente como chá ou gelado para ao tardes de verão, ele fica um chá espesso, devido a pectina da casca do maracujá, e é delicioso.

 Busque o estreitando dos vínculos de amizade, respeito,  evitando ideias e conversas desagradáveis e negativistas, tente elevar as taxas dos hormônios do prazer e bem estar como a Serotonina, que será produzida ao contemplar a beleza da natureza, ou trazer à memória boas recordações; a Endorfina pode elevar ao sorrir para as pessoas ou sorrir de você mesmo, e a Oxitocina será produzida,  fortalecendo a sua fé através da oração, dos cânticos de louvor, adoração e gratidão.

Aprenda a acalmar a sua mente, controlando seu corpo físico com a prática da respiração profunda até sentir o ritmo normal das batidas de seu coração. Inspire profundamente e expire lentamente soltando o ar pela boca e assim até se acalmar e relaxar.

Traga à memória, suas superações conquistadas ao longo da vida e não se deixe dominar por pensamentos invasivos  de temor e que geram ansiedade.

Esse é um momento de recolhimento, mas que não nos impede de  ver a beleza dos raios de sol através da janela, não importando o quanto a vida está nublada, ou como quando pedimos chuva, mas temos que aprender a lidar com a lama.

Mudança de mente exige flexibilidade nos pensamentos e ações, temos um cérebro maravilhoso, desenhado por um Deus poderoso, esse conjunto espetacular de massa encefálica com seus admiráveis feixes de neurônios, capazes de realizar as mais belas obras primas da criação, e como expressou magistralmente, Nelson Mandela, dono de uma força interior indescritível: “Eu sou o capitão da minha alma, não importa quão estreito o portão...”


Deijone do Valle
Neuropsicóloga