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terça-feira, 10 de setembro de 2013

AMOR: ROMÂNTICO AMOR...



“Conhecer o homem é o início da plenitude, mas conhecer a Deus é a plenitude perfeita”
(Clemente de Alexandria)



Você já se envolveu numa experiência romântica?

Em nossa cultura ocidental, valores como sentimento, afinidade, comprometimento e consciência da alma, parecem desaparecidos...

Como gerar relacionamentos verdadeiros que podem nos levar ao casamento?

Cadê a cordialidade? o respeito? o compromisso?

Como você imagina o relacionamento amoroso com outra pessoa?
O que significa amar? Estar apaixonado?

Apaixonar-se... fenômeno psicológico “sui generis”, pois quando nos apaixonamos, isto de certa forma, torna-se o sentido da vida, revelado pelo outro, e inconscientemente, exigimos que este “outro” nos alimente “ad eternum”, com uma sensação de plenitude,  êxtase e transcendência.

Típica presunção, não?

E quando se desapaixona?

Aí começam as acusações... culpa do outro? Não será também nossa?

Precisamos modificar nossas atitudes inconscientes, expectativas irreais, exigências e presunções, enfim,  alterar um pouco a nossa visão sobre o amor romântico.

Vamos dar uma olhada em nossas contradições e ilusões que cultivamos com tanto esmero.

Saíamos do nosso egocentrismo cotidiano e vamos dar um passeio pelo reino do amor.

Venha junto comigo, vamos analisar algumas informações psicológicas sobre nós mesmos: buscar verdades em nossa psiquê, onde provavelmente encontraremos os mitos, eles podem através do seu simbolismo, expressar o que se passa em nosso inconsciente a respeito do sentimento: amor, romântico amor...

O mito revela a mente coletiva de uma sociedade ou cultura, sendo uma  expressão e manifestação da riqueza contada em prosa, verso, canções, histórias e também em nossa vida diária.

E em termos de consciência, o maior problema que temos é também a nossa maior oportunidade de crescimento interior.

Só crescemos através de relacionamentos e estes são necessários para nos amadurecer, nos moldar e ensinar.

Toda nossa personalidade origina-se da matéria-prima de nossos contatos relacionais e vínculos afetivos, os quais sedimentam nossos valores, condutas, ideais e capacidades, sendo partes ativas de nosso self, no microcosmo de nossa alma.

Você, conhece o mito de Tristão e Isolda?

Uma doce e sublime história de amor e morte, um belo mito do amor romântico. Então?

Era uma vez... uma possível princesa: Isolda a bela, e um também possível príncipe: Tristão ( basicamente um anjo)...

Estes dois personagens simbolizam a nossa psiquê consciente e inconsciente, nosso ego, o “Eu”, aquela parte do ser, que tem consciência de si mesmo, ou que deveria amadurecer, crescer, evoluir, e verdadeiramente expressar-se em sua totalidade.

É isso mesmo: essa infinidade desconcertante de pulsões, impulsos, energia instintiva e possibilidades que devem ser integradas em nossa consciência, através do relacionamento e do amor.

Bem, vamos ao Mito, ao simbólico: Tristão (filho da tristeza) perdeu sua mãe, (Blanchefleur: “”Flor Branca”), no seu primeiro dia de vida. E morte em um mito, significa que algo abandonou o consciente.

Será que perdemos a capacidade de relacionar amorosamente, sentir e amar o outro?

As regiões inexploradas de nossa psiquê, oculta nostalgia e potencialidades, jamais vividas ou ousadas.

Dentro de nossa alma, simbolicamente habita uma Isolda, esperando o príncipe. Encantado? Acertou!

Habita também, nos porões da alma: dragões, gigantes, ogros, reis e princesas casadoiras.

São ilhas inconscientes, vazios infinitos, preenchidos por espaços míticos dos contos de fada e arquétipos, tudo isso povoa o nosso psiquismo.

Tristão é o herói que necessita urgentemente integrar dentro de si, as forças de seu ego e iniciar sua jornada em direção à sua totalidade.

Tentativas de união sempre começam com conflitos, dúvidas, mas é necessário demonstrar afeto para quem amamos, e despertar para a música da vida.

Tristão e Isolda simbolicamente representam o ego e seus mecanismos de defesa, e no mito, duas coisas são necessárias ao nosso herói: uma harpa e uma espada.

A espada representa o poder, a força, a lógica, o racional e analítico, e a harpa é o nosso lado lírico, sentimental e amoroso.

Espada ou harpa?

Ferir ou unir?

Consciente ou inconsciente?

Chega um momento na vida de Tristão em que seu ego não tem mais respostas e não dispõe de recursos suficientes para resolver uma  situação impossível.

Ele precisa vasculhar seu inconsciente até trazer à consciência, a capacidade de soltar-se, de abrir mão de suas defesas, enfim, abandonar o controle natural, ceder ao sobrenatural e colocar-se à disposição de Deus.

Afinal, deixar a espada, significa parar de lutar com suas próprias forças, e tocar a harpa significa esperar com paciência, buscar sabedoria e intuição.

O que será de Tristão? Cadê Isolda? Ela o espera...

Tristão tem  inimigos, e estes exigem que ele arranje uma rainha, o mais rápido possível e gere um herdeiro, caso contrário ele terá que lutar...

De acordo com o mito, certo dia, duas andorinhas entraram voando pela janela do castelo e deixaram cair um fio dourado de cabelo de mulher, longo e brilhante. Tristão promete encontrar a dama dos cabelos de ouro, mas ele intuitivamente sabia que era de Isolda, a dona daquele fio de cabelo.

Isolda se casaria com quem matasse o dragão, e assim Tristão mata o dragão e pede a mão de Isolda para o Rei Mark, magoando terrivelmente o coração da bela Isolda.

Tristão não tivera a dignidade de tomá-la para si mesmo.

Mas... sempre tem um mas...  acontece  que Tristão e Isolda bebem o vinho do amor...  o amor romântico entra para sempre em suas vidas.

Tristão, não poderia manter um relacionamento íntimo com ela, pois isto equivaleria a tratá-la como uma mulher mortal e comum.
A exigência do mito é que ambos, mantivessem acessa a chama da paixão ardendo intensamente, de desejo um pelo outro, mas que se esforçassem para espiritualizar esse desejo, considerado símbolo do mundo arquetípico divino, e nunca reduzindo a paixão aos aspectos do sexo e do casamento.

A grande dificuldade da imaginação ocidental é separar os fios emaranhados da nossa vida interior, com valores, compromissos e lealdades, das nossas ilusões, devaneios, projeções, fantasias e idealizações.

Mas voltemos ao Mito: aí encontraremos um Tristão e uma Isolda embriagados pelo vinho do amor...  o mundo de Tristão vira de cabeça para baixo.

Tristão e Isolda estão apaixonados... é mágico, é sobrenatural... uma verdadeira aspiração ao espiritual e ao eterno.

É o mito... que mexe com nossos velhos e sedimentados conceitos de “verdade”, às vezes incomodamente questionados.

Amor... que nos arrebata contra nossa vontade, fazendo-nos rever nossa escala de valores... apaixonar-se, incidente processado nas profundezas de nosso inconsciente, é algo que simplesmente  acontece.

É o nosso mundo projetado, onde experimentamos uma fantasia do outro, materializada numa imagem idealizada, um girassol, voltado apenas para a luz.

São nossas idiossincrasias particulares... não vemos as sombras.
Psiquê e Eros, Isolda e Tristão, arquétipos de nosso inconsciente coletivo, amor que os gregos consideravam eterno e imortal.

Amor, força que atua no interior para o exterior, permitindo ao nosso ego, enxergar e valorizar o outro, independente de opiniões alheias e mesmo de nossas fraudes internas.

Amar é aceitar e valorizar o outro, tal como é, autenticando-o para além de nossas idealizações e projeções.

Amor, força psicológica, com um poder enorme de transformar nosso ego e despertá-lo para a vida.

Relacionamentos baseados em projeções e idealizações, num certo sentido, significa estar apaixonado por “si mesmo”.

Uma ligação real, amorosa entre duas pessoas é vivida nas pequenas coisas que estas fazem juntas: conversar, trocar ideias, pequenos gestos de carinho, amizade, afeto, respeito e confiança.
Talvez, a lição mais importante que aprendemos com o mito de Tristão e Isolda, é que o amor romântico sobrevive apenas em uma atmosfera repleta de sofrimento, morte e situações impossíveis.

O amor romântico não suporta o cotidiano, as pequenas manifestações da vida diária que constroem as relações duradouras.

Pois é... a essência do amor é servir e encorajar quem amamos.
Ninguém cresce sem desafios...

Qual o maior desafio do amor romântico?

Não é sermos amados, mas amar o outro, este é o grande desafio.
Somos definitivamente seres psicológicos, somos Imago Dei: imagem divina.


Deijone do Vale
Neuropsicóloga

8 comentários:

  1. Tristão e Isolda ! eram seres vivendo costumes de sua época , eram seres juramentados, eram míticos ? Talvez tudo isso cirandasse por eles o nos hoje o que nos atrapalha a vivermos um grande amor? Seria o medo do preconceito ou os tabus sociais?
    São perguntas que lhe faço: As vezes o medo nos paralisa o medo de não sermos correspondido, mesmo dando sinais as vezes tememos acredito que o temor da rejeição nos atrapalhe, a rejeição em vários âmbitos e o grande problema dos amores míticos de hoje pois o amor não tem cor e nem idade!

    ASS.:Seu grande admirador anjo

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    1. Anjo! Vou responder seus questionamentos, mas antes, me responda: Você se lembra, aquele dia, em que quase tropecei nas suas asas, meu anjo?

      Abraços,

      Deijone do Vale

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  2. lindo texto! Apesar de ser triste esses amores ,proibidos ,impossíveis,preconceituosos serem tristes ... e bom saber que existe o amor ainda!!!

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  3. Mais um artigo muito rico em informações.
    O amor verdadeiro não é perfeito e tem seus limites.
    É uma pena como estes amores intensos sempre terminam

    Que você encontre seu amado

    Meus parabéns

    Att. Ezequiel Alves

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  4. Ótimo artigo, o Amor não deve ser uma mazela. Os amantes, tão pouco, desesperados, em busca de que tudo tenha “um final feliz”. Deve-se buscar a realização através de outras conquistas, individuais ou em parcerias. Creio que assim,as pessoas serão mais felizes,equilibrando os sentimentos.

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  5. LEMBRO!!! MAIS SE ISSO TIVESSE OCORRIDO NÃO A DEIXARIA DESAMPARADA E PARA ISSO QUE SERVEM OS ANJOS!

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  6. Gostei muito de seu artigo, ainda mas falando sobre amor, um tema bastante dificil de ser abordado.
    O amor ainda existe, apesar de nos enganarmos e errarmos bastante com pessoas que nos pareciam correstas e perfeitas.
    Mas é isso a vida, errando e aprendendo.
    Parabens pelo artigo, muito bom e interessante de se ler.

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  7. Como o amor romântico traz danos aos relacionamentos... Só acessando mesmo nossos conteúdos inconscientes para rompermos nessa questão.
    Seu artigo conseguiu trazer esse assunto de forma sensível e pertinente.
    Parabéns!!!!!
    Beijos,
    Juliana Cintra

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