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domingo, 15 de dezembro de 2013

LOUCURA E RAZÃO: Gavetas da Alma...

Acredita em anjo?
Pois é, sou o seu!
Além de anjo, eu poderia ser seu amor...
                                                                                             Deijone do Vale



A loucura, por mais paradoxal que pareça tem uma finalidade biológica específica: está a serviço da preservação individual.

Homens e ratos reagem a uma ameaça ou provocação através de duas formas bem definidas: fuga ou agressão, uma resposta biológica automática no sentido da preservação.

Se preferirmos a fuga, nos afastamos do elemento provocador, mas se o impulso é o ataque ou luta, a reação imediata é a irritação e hostilidade.

Ataque ou fuga?  Raiva ou defesa?

Fuga ou agressão são na verdade funções inibitórias, na vida humana principalmente, e isto se torna claro e plenamente justificado em nossa realidade emocional.

Veja como o coelho foge rápido, a tartaruga se retrai sob o seu casco, e nós humanos que somos, ao tentar escapar ou enfrentar realidades penosas, desenvolvemos o quê?

Desenvolvemos conflitos, ansiedades, sentimentos de frustração e outras insatisfações, aí nos neurotizamos ou enlouquecemos de vez, logicamente cada qual dentro de seu limiar de tolerância individual para o paradigma: luta/fuga...

Sempre que nos vemos ameaçados por um perigo, seja externo ou interno, real ou imaginário, nos mobilizamos fisiologicamente e psicologicamente no sentido da fuga ou ataque.

Cada indivíduo reage de conformidade com a sua constelação emocional, suas vivências, estrutura do ego, com suas capacidades de controle, julgamento e decisões, tudo isso intensificado pelas influências ambientais, interpessoais, temperamentais, morais, e uma multiplicidade complexa de fatores, desde capacidade intelectual, talentos, fatores culturais, crenças e o próprio contexto no qual se encontra inserido.

Desse coquetel emocional resulta um ser único, inigualável e com necessidades emocionais profundas, aliadas à imagem ideal que cria para si mesmo, sem se ater às exigências eternizadas pela educação que nos modelam, condicionam e nos civiliza.

Então o que fazemos? Tudo! Para ver se controlamos a nossa rebelião raivosa (ou não?).

Lançamos mão dos nossos mecanismos de defesa que controlam os impulsos instintivos e as emoções primárias, que vão desde mecanismos de repressão (quando banimos o impulso da consciência), como também mecanismos de supressão (quando ele é consciente, mas o suprimimos).

E dá-lhe mecanismos de defesa: Negação (negamos nossas emoções inaceitáveis), outro mecanismo é a formação reativa (uma fachada totalmente oposta à nossa realidade profunda).

Racionalizamos, justificando com lógicas impecáveis os nossos sentimentos, pensamentos e ações inaceitáveis e porque não procrastinar? Outro mecanismo de defesa usado para evitar o confronto.
E o mecanismo de projeção, então? onde atribuo ao outro, aquilo que na verdade é meu, projetando no outro, algo que pertence a mim mesmo.

E por aí vai... são tantos mecanismos de defesa do ego ou de adaptação psicológica, como a sublimação, por exemplo, que nos permite de certa forma temperar a dureza de nossa realidade interna e expressá-la sob uma forma mais aceitável socialmente.

Até o próprio humorismo funciona como mecanismo de defesa, é o caso do condenado ao enforcamento que ao subir ao cadafalso, solenemente se exprime: “Espero que eu agora aprenda a lição!”.

As atitudes exibidas na vida adulta, obedece  a dinâmica da história de vida individual, ou seja, são os recursos adaptativos psicológicos, que utilizamos como uma forma de salvaguardar a autoestima, caso contrário enlouqueceríamos todos, nesta dissociação entre o aspecto normal da personalidade, que de vez em quando aparece lado a lado com o contingente patológico.

Vicent Van Gogh retratou magistralmente no quadro: “Diante da eternidade”, com seu pincel, um homem triste, pessimista, desanimado, ansiado com o seu destino espiritual, totalmente preocupado com seus pecados reais e imaginários.

Quando perdemos a razão? Quando nos alienamos? Será quando somos dominados por paixões intensas? Paixões extravagantes? Louco amor?

Lógico que nossas emoções são indispensáveis para a nossa racionalidade, para os processos neurais,  expressos em nossa mente.

Mente e corpo, uma unidade indivisível, um influenciando o outro, através das emoções que se expressam e modelam nossas respostas comportamentais, refletindo ou não o uso da razão.
Se tivermos um déficit em nosso comportamento emocional, é bem possível que teremos dificuldades em tomar decisões racionais.

Existe influência das emoções, quando tomo uma decisão ou deixo de tomá-la, mas fica o questionamento: “Será  que uma decisão  é a resultante de um comportamento puramente racional?

Voltamos ao argumento anátomo-fisiológico, aos processos cerebrais, suas estruturas que desencadeiam emoções inatas e emoções aprendidas, por exemplo: Qual seria o substrato neural que envolve emoções em um sorriso espontâneo?

Seriam as mesmas estruturas em um sorriso intencional?

Difícil separar razão da emoção ou vice-versa, o que fica evidente é que nossas emoções possibilitam o equilíbrio na tomada de decisões.

Equacionar razão e emoção não é tarefa fácil, quando estas estão em desequilíbrio, nos fragiliza.

Você é daqueles que acredita que o racional fortalece? Será que quando somos muito racionais, isto não sinaliza a pouca disponibilidade para lidar com situações emocionais?

Como será o seu  duelo interno entre razão e emoção?

Dificil, não? esta homeostase do nosso ser no mundo, pois entre razão e emoção existe alguém singular: Você!

Em síntese, quanto mais amadurecemos emocionalmente, mais estáveis e flexíveis serão nossos ajustamentos frente às pressões ambientais e que tocam nossos pontos vulneráveis e assim reagimos por uma mobiização, no sentido da luta e fuga, então, voltamos ao ponto inicial de nossa questão...

Mas sempre apareceram, por mais que disfarcemos as nossas realidades inaceitáveis: seja através do corpo, das atitudes, dos sentimentos, dos instintos, ou nas expressões fisionômicas e nos sintomas psicossomáticos.

Nem sempre é o externo, a imagem introjetada é que dimensiona a ameaça transformada em um estímulo aterrador, que fica impresso na nossa memória emocional.

Dá o que pensar, e isso me recorda um verso, do poema de Paulo Leminski, que diz: “...todo bairro tem um louco

Que o bairro trata bem
Só falta mais um pouco,
Pra eu ser tratado também”...

É exatamente essa, a diferença entre esquecer e não querer mais lembrar, infelizmente tem coisas que violam indelevelmente a nossa alma, e uma delas é o sentimento represado.

Se pudesse, cantaria: “Parabéns prá você....” , mas fico apenas com a frase dita por Bob Marley, o difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se ama. Eu desisti: mas não pense que não foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer.
Parabéns!

Ouça a música: Orchidea...
Deijone do Vale
Neuropsicóloga

9 comentários:

  1. As pessoas estão perdendo a tolerância estão desaprendendo a amar e tolerar uns aos outros! Isso tem sido a causa de muitos males em nossa sociedade.
    Um exemplo é o trânsito por que quem provoca briga xinga desgasta o outro e ofende causando stress isso é um grande agravante em determinadas situações.
    Vanessa Morato

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Renata, você como sempre, um ser incrivelmente sensível!
      Obrigada,
      Deijone do Vale

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  3. "Hoje parei para arrumar as gavetas de minha alma...ha quanta coisa encontrei guardada... encontrei coisas que fizeram lembrar de um passado triste, encontrei coisas que quero guardar eternamente, encontrei coisas que me fizeram rir sozinha... joguei tantas coisas fora, limpei as que se encontravam empoeiradas e as guardei novamente...encontrei coisas as quais tive que desistir não por não querer mais mais, por querer demais achei melhor desistir... hoje parei para arrumar as gavetas de minha alma e você coloquei la no fundo de minha gaveta...
    Deijone os seus textos são inspiradores nos fazem refletir sobre nós mesmos...
    Parabéns!!! Renata Grazielly

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  4. Muito bom, um livro seria oportuno e ajudaria muito.

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  5. Obrigada pelo incentivo. Brevemente estarei publicando um livro sobre as idéias que vocês lêem no Portal de Neuropsicologia.

    Até lá,
    Deijone do Vale

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  6. Éeee......somos mesmo "um oceano" de sonhos, fantasias, desejos, vontades, frustrações, ansiedades......Tudo isso salpica nosso interior, trazendo situações diversas, em nosso viver; somos um "pacote completo", com tudo junto e misturado.
    Somos a obra prima da Suprema Inteligência, e, como tal, dotados de capacidade infinita.... Entretanto, em apenas uma existência, jamais conseguiriamos desvencilharmo-nos de todas as mazelas, que trazemos em nosso espírito, acumuladas ao longo de nosso caminhar existencial; causa de tanta turbulência emocional...tantas loucuras...
    No entanto, quem promove seu auto-conhecimento, descobre mais rapidamente, os sinais que a vida dá, percebendo os caminhos mais viáveis.
    A vida fica melhor, quando temos a temperança como base, em nosso modus vivendi.
    Parabéns!! Que texto rico!!! Gostei muito!!

    Deixo esta frase, que tem tudo a ver com o coração da autora....não por acaso, minha amiga Deijone, para mim, simplesmente "D".

    Os anos passam....crescemos na alma, mas sempre seremos frágeis no amor.
    Grande abraço.
    Lena. (Lúcia Helena)

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    1. Minha sensível e nobre amiga, Lena, uma pessoa realmente encantadora e singular.

      Deijone do Vale

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  7. Parabéns, querida! Grandes verdades escritas aqui...
    Razão e emoção...uma guerra interior constante...
    Que Deus nos ajude!!!

    Walmira Andrade

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